Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









quarta-feira, 12 de junho de 2013

MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE

MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
(1765 - 1805)

Poeta pré-romântico português, nasceu em Setúbal, considerado considerado o maior poeta da língua no século XVIII e conhecido por seu estilo rebelde e satírico, símbolo da irreverência, da frontalidade, da luta contra o despotismo e de um humanismo integral e paradigmático. Era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa e de D. Mariana Joaquina Xavier I'Hedois Lustoff Du Bocage, cujo pai era o Almirante francês Gil Hedois Du Bocage, que chegara a lisboa em 1704, para reorganizar a Marinha de Guerra Portuguesa.
Sua infância foi infeliz: O pai foi preso, quando ele ainda tinha seis anos e permaneceu na cadeia por seis anos. Sua mãe faleceu quando tinha dez anos.
Assentou praça de cadete no regimento n.º 7 de infantaria de Setúbal (1779), vindo estudar em Lisboa aos 14 anos de idade. Na Academia Real de Marinha, recebeu a sua educação científica, aperfeiçoou-se na Academia dos Guardas Marinhas, criada em 14 de agosto (1782) e alistou-se na Marinha de Guerra (1783). Nestes sete anos que passou em Lisboa estudou ciências e passou a compor versos. Embarcando para a Índia (1786), viveu em Goa, Damão e Macau, voltando a Lisboa (1790), quando continuou a escrever versos, inicialmente sobre uma desilusão amorosa com uma cunhada e suas dificuldades materiais. 

Foi preso por, na sequência de uma rusga policial, lhe terem sido debitados panfletos apologistas da revolução francesa e a divulgação de um poema erótico e político, intitulado Pavorosa Ilusão da Eternidade, também conhecido como Carta a Marília (1797), e foi encarcerado no Limoeiro, acusado de crime de lesa-majestade. Moveu influências, sendo, então, entregue à Inquisição, instituição que já não possuía o poder discricionário que anteriormente tivera. Em fevereiro do amo seguinte foi entregue pelo Intendente Geral das Polícias, Pina Manique, ao mosteiro de S. Bento da Saúde, de Lisboa (1798) e um mês depois passou para o hospício de Nossa Senhora das Necessidades dos clérigos de S. Filipe Nery, convento dos oratorianos, para ser reeducado. 

Curvando-se às convenções religiosas e morais da época, foi finalmente libertado no final daquele ano. Ao voltar à liberdade, aceitou (1800) a proposta que lhe fez o naturalista brasileiro, o padre José Mariano da Conceição Veloso para, mediante um ordenado mensal, fazer as traduções para a Tipografia Calcográfica do Arco do Cego, por ele dirigida. Nessa nova empreitada; um trabalho penosíssimo e de máxima responsabilidade, saiu-se brilhantemente, tornando-se numa das fases mais gloriosas do poeta. Traduziu vários poemas didáticos como Os Jardins de Delille e As Plantas, de Castel, A Agricultura, de Roset, e O Consorcio das Flores, epístola de Lacroix. Além dos poemas franceses, também traduziu vários poetas latinos e italianos. 

Os últimos cinco anos, que precederam a sua morte, foram bem dolorosos para o infeliz poeta, agitados de terrores e ansiedades, vendo-se pobre e doente. Em função de uma vida pouco regrada que levara sua saúde debilitou-se rapidamente no seu último ano de vida (1805). Mesmo doente ainda publicou Os improvisos e os Novos improvisos, escritos já durante a enfermidade. Com apenas 40 anos, faleceu na Travessa de André Valente, em Lisboa, perante a comoção da população em geral e foi sepultado na Igreja das Mercês. 

Considerado como um dos melhores poetas lusitanos, e depois de Camões o mais popular e celebrado de todos, sendo suas publicações pessoais mais conhecidas o 1.º volume de Rimas, os Queixumes do pastor Elmano (1791), os Idyllios maritimos (1791), o 2.º tomo das Rimas (1799) e o 3.º (1804). De uma personalidade plural, para muitas gerações, encarnou o símbolo da irreverência, da frontalidade, da luta contra o despotismo e de um humanismo integral e paradigmático, e seus versos eróticos e burlescos circularam mundialmente e por muito tempo, em edições clandestinas.

A 15 de setembro, data do nascimento do poeta, é feriado em Setúbal.

INVOCAÇÃO À NOITE
Ó deusa, que proteges dos amantes
O destro furto, o crime deleitoso,
Abafa com teu manto pavoroso
Os importantes astros vigilantes.
Quero adoçar meus lábios anelantes
No seio de Ritália melindroso;
Estorva que os maus olhos do invejoso
Tuebem d'amor os sôfregos instantes.
Tétis formosa, tal encanto inspire
Ao namorado Sol teu níveo rosto,
Que nunca de teus braços se retire!
Tarda ao menos o carro à Noite oposto,
Até que eu desfaleça, até que expire
Nas ternas ânsias, no inefável gosto.
Folgara o coração quando se oprime,
E a razão, que os excessos aborrece,
Notando a causa, revelara o crime.
** ** **
DESEJO AMANTE
Elmano, de teus mimos anelante,
Elmano em te admirar, meu bem, não erra;
Incomparáveis dons da tua alma encerra,
Ornam mil perfeições o teu semblante.
Granjeias sem vontade a cada instante
Claros triunfos na amorosa guerra:
Tesouro que do céu vieste à Terra,
Não precisas dos olhos de um amante.
Oh! se eu pudesse, Amor, oh! se eu pudesse
Cumprir meu gosto! Se em altar sublime
os incensos de Jove a Lília desse!

Fontes de pesquisa:


Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir) 

FRANCISCO ALVIM


FRANCISCO ALVIM
Francisco Soares Alvim Neto, poeta e diplomata, filho do advogado Fausto Figueira Soares Alvim e de Mercedes Costa Cruz Alvim, nasceu em Araxá, MG, em 1938.
Começou a escrever poemas ainda na adolescência, sob influência da irmã, também poeta, Maria Ângela Alvim. Durante a juventude, viveu períodos no Rio de Janeiro e Belo Horizonte e, em 1953, fixou residência no Rio de Janeiro. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Distrito Federal, atual UERJ, mas interrompe o curso em 1963, quando entra para o Instituto Rio Branco, formando-se no ano seguinte. Inicia a carreira diplomática em 1985 e, três anos depois, estréia com o livro 'Sol dos Cegos'.
Entre 1969 e 1971, atua como secretáeio de representação do Brasil junto à UNESCO, em Paris, cidade onde escreve parte dos poemas de 'Passatempo' (1974). 
De volta ao Brasil, integra-se ao grupo Frenesi, que constitui a primeira leva dos chamados "poetas marginais": Roberto Schwartz, Cacaso, Chacal e Geraldo Carneiro.
Seus livros saem em edições artesanais até 1981, quando a Editora Brasiliense lança a reunião 'Passatempo e Outros Poemas' .
Pelo Itamaraty atua como Cônsul-Geral do Brasil em Barcelona e em Rodertã, na Holanda, e ainda como Embaixador em Costa Rica.
Sua obra 'O Elefante' , publicada em 2000, é bem recebida pela crítica especializada.
Cenário crítico:
Tendo estreado em 1968, com Sol dos Cegos, Francisco Alvim integra a geração de poetas marginais que tem projeção na década de 1970 e que retoma uma das propostas do Modernismo: A linguagem antiliterária, o poema curto, o poema piada, a escrita espontânea e o coloquialismo. Tais pocedimentos são baseados no discurso cotidiano,  onde o autor ouve e seleciona, sem intervenção.
O desejo de salientar problemas da sociedade brasileira está presente desde o início de sua poesia. O eu lírico se coloca como "vazio de tudo que sou" (A Pedra, Sol dos Cegos) e até mesmo quando se move no plano afetivo, busca as implicações do universo histórico-social: "Os momentos aqui dentro/são bastante iguais aos de fora" ('Um Poeta de Masarda', Passatempo).


No início da década de 1980, privilegia-se a denúncia dos abusos cometidos pela ditadura brasileira, conforme se lê em 'Lupa', de Lago, Montanha (1981): "...cães/ amestrados pelo homem/ no pátio das prisões/ mastigam o sexo do homem".
Com o fim do regime militar, a atenção do poeta recai sobre questões nacionais relacionadas à sociedade de consumo e ao preconceito oriundo do passado escavocrata. Como observa Roberto Schwartz, o poema 'Mas', constituido apenas pelo verso 'É Limpinha' , sugere, entre outras possibilidades, o preconceito da classe média em relação aos excluídos que a servem.
O exemplo ilustra também a matéria-prima fundamental da poética de 'O Elefante' : a fala. Transcrita sem a identificação do sujeito que a proferiu, é, contudo, socialmente marcada. As relações de poder e desigualdade que configuram a sociedade brasileira estão sintetizadas por meio de cenas flagradas por Francisco Alvim.
O RITO
Na calçada o rito
se dispõe concreto:
respiro ou aspiro
o hálito discreto
que exalam os mortos
inconfessos.
Permanentemente
sobre as avenidas,
um grito inaldível,
indício seguro
do terrível equivoco.
Porém, como ouvi-lo?
Nada nos restringe
nem sequer o grito
tudo se dissolve
nas lindes do rito.
Soletrar os signos
que contém o rito
para destruí-lo
ou reproduzi-lo?


QUASE APOSENTADO
Da janela de meu trabalho
vejo três palmeiras.
Entre elas e eu uma rua estreita
uma lâmpada de vidro,
um paralelepípedo baixo sobre o qual se amontoam
fichas,
catálagos,
embrulhos.
As palmeiras talvez tenham a minha idade
Posso dizer-lhes
(como se a mim algum dia houvesse dito)
- Somos moços
vamos ver o que a vida ainda nos reserva.
A tarde é uma velha doente, ressentida do mundo,
em cujas veias o sangue tornou-se espesso e difícil,
de cujas folhagens escorre uma brisa macilenta.

Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)