Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









terça-feira, 3 de junho de 2014

LAURINDO RABELO


LAURINDO RABELO
(1826 - 1864)
 
 
 
 
Laurindo José da Silva Rabelo, médico, professor e poeta, nasceu no Rio de Janeiro, em 08 de julho de 1826, e faleceu na mesma cidade, em 28 de setembro de 1864. É  patrono da Cadeira nº 26 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Guimarães Passos.
Era filho do oficial de milícias Ricardo José da Silva Rabelo e de Luiza Maria da Conceição, ambos mestiços e gente humilde do povo carioca. Cresceu nas maiores privações, das quais só veio a se libertar nos últimos anos de sua vida.
Pretendendo seguir a carreira  eclesiástica, cursou as aulas do Seminário São José e recebeu as ordens, mas abandonou o seminário por intrigas de colegas.
Fez estudos na Escola Militar, outra vez tentando em vão seguir carreira. Ingressou no curso de medicina, concluindo-o na Bahia em 1856. Em 1857, ingressou como oficial-médico no Corpo de Saúde do Exército, servindo no Rio Grande do Sul, até 1860.
Neste ano casou-se  com D. Adelaide Luiza Cordeiro, e só a partir de então pode livrar-se da pobreza que marcou sua existência. De volta so Rio de Janeiro, lecionou as disciplinas de História, Geografia e Português no curso preparatório da Escola Militar.
Caracterizou-o, desde os anos de estudante, a maneira espontânea e desengonçada de viver. Por sua compleição física e bizarra, a imaginação popular deu-lhe o apelido de "poeta-lagartixa". Viveu na boemia, um ambiente que o estimulava literariamente.
 




 Como poeta satírico, era justamente temido e respeitado. Teve amigos e também inimigos acérrimos, por causa desta feição de seu talento, chegando a ser perseguido.
Como repentista e improvisador, era popular e bem recebido em todos os salões. Fechavam os olhos à sua indumentária desleixada, só para ouvir o poeta e ver as cintilações de seu espírito. Em muitas de suas composições vibra a nota de melancolia, pois também pertencia ao período romântico.
Atacado por uma afecção cardíaca, Laurindo Rabelo faleceu aos 38 aos de idade.

ANGÚSTIA
 
Quando morta a felicidade,
A fé expira também !
Saudades de que se nutrem?
Os suspiros, que alvo têm?
 
Morta a fé, vai-se a esperança;
Como pois, viver pudera
Saudade que não tem crança,
Saudade que desespera?
 
Onde as graças do passado,
Se altivo gênio sanhudo
O cepticismo nos brada.
Foi mentira, engano tudo?
 
Em nada creio do mundo:
Ludíbrio da desventura,
A felicidade me acena
Só de um ponto - a sepultura.
 
Morreram minhas saudades,
E nem suspiros calados
Dentro d'alma pouco a pouco
Vão morrendo sufocados.
 
** ** **
 
BEIJO DE AMOR
 
Se me queres ver ainda,
Recobra da vida a flor:
Deixa remoçar-me a vida
Um beijo do teu amor.
 
De minha vida a ventura
Teus lábios guardam consigo,
Dá-me um só beijo e verás
Se é mentira o que eu te digo.
 
Como a flor, do sol a um beijo,
Se quiseres, podes ver.
A minh'alma semimorta,
Num teu beijo reviver.
 
Só esperá-lo me alenta ,
Me conforta o fado meu;
Imagina só por isso
Quanto pode um beijo teu.
 
** ** **
 
AS ROSAS DO CUME
 
No cume daquela serra
Eu plantei uma roseira.
Quanto mais as rosas brotavam,
Tanto mais o cume cheira.
 
À tarde, quando o sol posto,
E o cume o vento adeja,
Vem travessa borboleta
e as rosas do cume beija.
 
Nos tempos das invernadas,
Que as plantas do cume levam,
Quanto mais molhadas eram,
Tanto mais no cume davam.
 
Mas se as águas vêm correntes,
E o sujo do cume limpam,
Os botões do cume abrem,
As rosas do cume grimpam.
 
Tenho pois, certeza agora
Que no tempo de tal rega,
Arbusto por mais cheiroso
Plantado no cume pega.
 
Ah! Porém o sol brilhante
Logo seca a cataduba,
O calor que a terra abrasa
As águas do cume chupa. 



Eliana (Shir) Ellinger
 
Fontes de pesquisa:
 

DORA FERREIRA DA SILVA


DORA FERREIRA DA SILVA
( 1918 - 2006 )
Dora Ferreira da Silva nasceu dia 1º de julho de 1918, na cidade paulista de Conchas, e faleceu em São paulo em 2006.
A vocação poética surgiu na infância, através de leituras na biblioteca de poesia de seu pai, Theodomiro Ribeiro, que faleceu quando Dora tinha um ano de idade. Com dois anos, mudou-se com a família para a Capital do Estado, onde mais tarde estudou no Instituto de Educação, da então recente Universidade de São Paulo.
Casou-se aos 19 anos com o filósofo Vicente Ferreira da Silva, com quem viveu por 23 anos não apenas uma história de amor e admiração, mas também uma intensa e fecunda parceria intelectual. Ao lado do marido, relacionou-se com intelectuais do mundo inteiro, como Agostinho da Silva, Eudoro de Souza e Ernesto Grassi, assim como Guimarães Rosa e Oswald de Andrede, que frequentavam a casa da rua José Clemente, referência cultural na cidade de São Paulo.
Em 1955, o casal fundou, ao lado de Milton Vargas, a revista "Diálogo", interrompida em sua décima sexta  edição pela morte prematura de Vicente num acidente de carro. Dois anos depois, com a colaboração de Vilém Flusser e Anatol Rosenfeld, Dora lançou a revista "Cavalo Azul", voltada especialmente à poesia e à literatura. Dora publicou sistematicamente artigos, traduções e poemas nas duas revistas.
Entre as atividades docentes, lecionou História e Arte na EAD e História das Religiões na Faculdade Tereza Martin. Ao longo de sua vida reuniu e orientou vários grupos de alunos que estudavam principalmente psicologia, mitologia e poesia. A criação do Centro de Estudos Cavalo Azul, em 2003, incorporou outros professores e poetas, como Rodrigo Petrônio e Cláudio Willer, que integravam o último grupo de estudos de Dora, ainda em atividade.

                                       



A poesia foi a vivência, paixão e prática de toda sua vida. A primeira publicação em livro foi em 1970, com a coletânea "Andanças", que reuniu a poesia produzida a partir de 1948. Publicou depois outros dez volumes, além de traduções, artigos e ensaios. Recebeu três prêmios Jabuti pelos livros "Andanças", "Poemas da Estrangeira"  e "Hídras", a Menção honrosa PEN CENTRE por "Talhamar" e o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pela publicação da "Poesia Reunida", em 2000.
Integrou a comissão responsável pela publicação da obra completa de Carl Gustav Jung em português, da qual foi responsável por várias traduções, além do clássico "Memórias, Sonhos,
 Reflexões".


                              

Em 2006, aos 87 anos, Dora preparava-se para lançar mais um livro. Estava em plena atividade, trabalhando em três séries de poemas:  "Appassionata", "O Leque" e "Transpoemas", esta última em um mergulho na fonte originária da poesia, que  não concluiu pois veio a falecer.
Seu acervo documental e bibliográfico foi incorporado ao Instituto Moreira Salles, onde, depois de catalogado, está disponobilizado para pesquisa e divulgação, figurando ao lado de nomes como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Rachel de Queiroz, dentre muitos outros escritores brasileiros.


 CÂNTICOS
Tenho-te um amor de mansidões
rebanho lento e branco passeando na alvorada
tenho-te um amor tranquilo e trêmulo
não se música ou se constelações.
Tenho-te um amor de eternidades
em vagas renascentes - brando som de flauta
chamando as superfícies distraídas
para a reconcentração definitiva.
II
Como um ramo de úmidas rosas
quisera estar na sala em que respiras
o aroma de tuas primaveras.
Como um cesto de frutos derramados
quisera ser a oferta abandonada
na mesa simples da tua eternidade.
** ** **
AO SOL
Naufragas na noite
em pompas de luz e imensidade
todo germe palpita na semente
e da nova manhã ressurges
clara divindade
nua a carnação sob o manto escarlate.
** ** **
NOTURNO
Nossos olhos nos pertencem,
não o dia.
Amor não nos pertence
nem a morte.
Apenas pousam na pérola mais fina,
Desce o luar
No flanco de rios precipitados
Folhas se alongam
caules estremecem.
A noite já desfere
seu punhal de trevas. 

Eliana (Shir) Ellinger
Fontes de pesquisa: