FRANCISCO ALVIM
Francisco Soares Alvim Neto, poeta
e diplomata, filho do advogado Fausto Figueira Soares Alvim e de Mercedes Costa
Cruz Alvim, nasceu em Araxá, MG, em 1938.
Começou a escrever poemas
ainda na adolescência, sob influência da irmã, também poeta, Maria Ângela Alvim.
Durante a juventude, viveu períodos no Rio de Janeiro e Belo Horizonte e, em
1953, fixou residência no Rio de Janeiro. Ingressou na Faculdade de Direito da
Universidade do Distrito Federal, atual UERJ, mas interrompe o curso em 1963,
quando entra para o Instituto Rio Branco, formando-se no ano seguinte. Inicia a
carreira diplomática em 1985 e, três anos depois, estréia com o livro 'Sol
dos Cegos'.
Entre 1969 e 1971, atua como
secretáeio de representação do Brasil junto à UNESCO, em Paris, cidade onde
escreve parte dos poemas de 'Passatempo' (1974).
De volta ao Brasil, integra-se ao
grupo Frenesi, que constitui a primeira leva dos chamados "poetas marginais":
Roberto Schwartz, Cacaso, Chacal e Geraldo Carneiro.
Seus livros saem em edições
artesanais até 1981, quando a Editora Brasiliense lança a reunião
'Passatempo e Outros Poemas' .
Pelo Itamaraty atua como
Cônsul-Geral do Brasil em Barcelona e em Rodertã, na Holanda, e ainda como
Embaixador em Costa Rica.
Sua obra 'O Elefante' ,
publicada em 2000, é bem recebida pela crítica especializada.
Cenário crítico:
Tendo estreado em 1968, com Sol
dos Cegos, Francisco Alvim integra a geração de poetas marginais que tem
projeção na década de 1970 e que retoma uma das propostas do Modernismo: A
linguagem antiliterária, o poema curto, o poema piada, a escrita espontânea e o
coloquialismo. Tais pocedimentos são baseados no discurso cotidiano, onde o
autor ouve e seleciona, sem intervenção.
O desejo de salientar problemas da
sociedade brasileira está presente desde o início de sua poesia. O eu lírico se
coloca como "vazio de tudo que sou" (A Pedra, Sol dos Cegos) e até mesmo quando
se move no plano afetivo, busca as implicações do universo histórico-social: "Os
momentos aqui dentro/são bastante iguais aos de fora" ('Um Poeta de Masarda',
Passatempo).
No início da década de 1980,
privilegia-se a denúncia dos abusos cometidos pela ditadura brasileira, conforme
se lê em 'Lupa', de Lago, Montanha (1981): "...cães/ amestrados pelo
homem/ no pátio das prisões/ mastigam o sexo do homem".
Com o fim do regime militar, a
atenção do poeta recai sobre questões nacionais relacionadas à sociedade de
consumo e ao preconceito oriundo do passado escavocrata. Como observa Roberto
Schwartz, o poema 'Mas', constituido apenas pelo verso 'É Limpinha'
, sugere, entre outras possibilidades, o preconceito da classe média em
relação aos excluídos que a servem.
O exemplo ilustra também a
matéria-prima fundamental da poética de 'O Elefante' : a fala.
Transcrita sem a identificação do sujeito que a proferiu, é, contudo,
socialmente marcada. As relações de poder e desigualdade que configuram a
sociedade brasileira estão sintetizadas por meio de cenas flagradas por
Francisco Alvim.
O RITO
Na calçada o rito
se dispõe concreto:
respiro ou aspiro
o hálito discreto
que exalam os mortos
inconfessos.
Permanentemente
sobre as avenidas,
um grito inaldível,
indício seguro
do terrível equivoco.
Porém, como ouvi-lo?
Nada nos restringe
nem sequer o grito
tudo se dissolve
nas lindes do rito.
Soletrar os signos
que contém o rito
para destruí-lo
ou reproduzi-lo?
QUASE APOSENTADO
Da janela de meu
trabalho
vejo três palmeiras.
Entre elas e eu uma rua
estreita
uma lâmpada de vidro,
um paralelepípedo baixo sobre o
qual se amontoam
fichas,
catálagos,
embrulhos.
As palmeiras talvez tenham a minha
idade
Posso dizer-lhes
(como se a mim algum dia houvesse
dito)
- Somos moços
vamos ver o que a vida ainda nos
reserva.
A tarde é uma velha doente,
ressentida do mundo,
em cujas veias o sangue tornou-se
espesso e difícil,
de cujas folhagens escorre uma
brisa macilenta.
Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)
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