HERMES FONTES
(1888 - 1930)
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, ou
simplesmete
Hermes-Fontes, como assinava, com hífen, filho de Francisco
Martins Fontes e Maria de Araújo Fontes, nasceu em Boquim em 28 de agosto de
1888.
Estudou as primeiras letras na terra natal, mudando-se, aos 8
anos, para Aracaju onde passou por algumas escolas até matricular-se no colégio
do professor Alfredo Montes. O talento do menino chamou a atenção dos
professores, pela precocidade, espalhando-se em toda capital sergipana, chegando
ao conhecimento do presidente do Estado, um dos Bacharéis de Recife, Martim
Garcez, que o levou para o Rio de Janeiro.
Hermes-Fontes tinha 10 anos quando chegou na capital da
República para estudar, às custas de Martinho Garcez.
O estímulo recebido frutificou, os estudos revelaram a
intelectual, que desde os 15 anos a colaborar na imprensa, começando pelo jornal
O Fluminense, de Niterói, seguindo-se muitos outros, onde mostrava sua
vocação de poeta e de crítico. Em 1911 bacharelou-se em Direito, pela Faculdade
Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, onde Sílvio Romero era
professor.
A tragetória poética de Hermes-Fontes, desde
Apoteoses, 1908, até Fonte da Mata, 1930, consagra sua vida
intelectual, adornada pela crítica ampla que fez da vida brasileira, em artigos,
ensaios e colunas nas principais revistas e jornais da sua época - Correio
da Manhã, Fon-Fon, Careta, O País, O Malho, Kosmos - e ainda pelo traço bem
humorado da caricatura.
Hermes-Fontes foi, então, um artista completo que conquistou o
público, mereceu opinião favorável dos críticos e reconhecimento pleno de sua
intensa atividade intelectual.
Em 1913 publicou seu primeiro livro de poesias, Gênese.
Seguiram-se Ciclo da Perfeição (1914), Miragem do Deserto
(1917), Microcosmo (1919), A Lâmpada velada (1922) e
A Fonte da Mata (1930), entre outros.
A poesia de Hermes-Fontes é de estética simbolista, tendo
produzido também poemas visuais, mas não acompanhou a nova ordem literária com o
advento do Modernismo no Brasil em 1922. Participou da formação da Academia
Sergipana de Letras em 1929, fundador da cadeira 16, tendo como patrono o poeta
Pedro de Calasans.
Sua vida foi conturbada na década de 20, as traições, o fim de
seu casamento e outros complexos sobre seu aspecto físico (baixo e
feio), contribuiram para seu isolamento e depressão.
Em 25 de dezembro de 1930, aos 42 anos, Hermes-Fontes deu fim
a sua própria vida com uma arma, amargurado e infeliz, no Rio de
Janeiro.
MÃE
Para dizer quem foi a minha mãe, não acho
Uma palavra própria, um pensamento bom
Diógenes - busco-o em vão: Falta-me a luz de um
facho
- Se acho som, falta luz; se acho luz falta o
som!
Teu nome - ó mãe! - tem o sabor de um cacho
De uvas diáfamas, cor de ouro e pérola, com
Polpa de beijos de anjo...ouvi-lo é ouvir um
sacho
Merencóreo, a rezar, no seu eterno tom...
Minha mãe! Minha mãe! Eu não fui qual devera.
Morreste e eu não bebi nos teus lábios de cera
A doçura que as mães, ainda mortas contêm...
Ao pé de nossas mães - todos nós somos crentes...
Um filho que tem mãe - tem todos os parentes...
E eu não tenho por mim, ó mãe, ninguém!
JOGOS DE SOMBRAS
Sempre que me procuro e não me encontro em mim,
pois pedaços do meu ser que andam dispersos
nas sombras do jardim,
nos silêncios das noite,
nas músicas do mar,
e sinto os olhos, sob as pálpebras imersos
nesta serena unção crepuscular
que lhes prolonga o trágico tresnoite
da vigília sem fim,
abro meu coração, como um jardim,
e desfolho a corola dos meus versos,
faz-me lembrar a alma que esteve em mim
e que, um dia, perdi e vivo a procurar
nos silêncios da noite,
nas sombras do jardim,
na música do mar...
Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)
Nenhum comentário:
Postar um comentário