MARIA ÂNGELA ALVIM
(1926 - 1959)
Maria Ângela da Costa Cruz Alvim,
nasceu em 1º de janeiro de 1926, na fazenda de Pouso Alegre, município de Volta
Grande, Zona da Mata, Minas Gerais, filha de Fausto Figueira Soares Alvim e de
Mercedes Costa Cruz Alvim.
Segundo a família, desde cedo
mostra-se interessada por artes (tocava violão, fazia gravuras, emboçava os
primeiros versos) e pelo social, atividades que seriam aprofundadas em sua
juventude, na curta carreira como Assistente Social e na produção literária
intensa, pois veio a falecer aos 33 anos.
Seu primeiro trabalho literário,
"Superfície", foi publicado ainda em vida, aos 24 anos de idade, Em
Belo Horizonte, pela editora João Calazans, em 1951.
Maria Ângela Alvim encaminhou a
publicação de seu segundo livro, "Barca do Tempo", em edição artesanal.
O trabalho da escrita e encadernação foi, segundo relatos da família, realizado
por freiras beneditinas de Belo Horizonte, a pedido da própria poeta. Segundo
seu irmão Francisco Alvim, ela tinha muito cuidado e zelo com este material, que
passava de maõ em mão entre familiares e amigos, os quais o elogiavam pela
qualidade visual e literária, deixando a poeta orgulhosa.
Postumamente, foram publicadas outras três edições de Poemas, aqui no Brasil, todas com o
mesmo conteúdo e seqüenciação de textos (Superfície, Barca do tempo, Outros
Poemas, Poemas de Agosto e Carta a um Cortador de Linho). O que difere entre
uma e outra é que, ao contrário das edições Fontana (1980) e Unicamp (1993), a
edição do Departamento de Imprensa Nacional (1962) não tem
fac-símile de cartas da poeta enviadas à família quando de sua primeira
viagem a Europa, além de algumas fotos de Maria Ângela Alvim (na infância e
juventude, local de nascimento e óbito, entre outras), além disso, a primeira
edição de Superfície traz duas gravuras ilustrando dois
poemas do livro.
As edições publicadas no exterior aconteceram de modo muito
particular. A edição francesa, Poèmes d'août - anthologie poétique,
primeira publicação, deu-se a partir de Monique Attle, sua amiga de adolescência
quando morava no Rio de Janeiro. De relação fraternal constituida entre as duas
e com a família Alvim, nasceu a preocupação de Attle em apresentar, 40 anos
depois, na França, os poemas de Maria Ângela Alvim para os Max de Carvalho, de
ascendência brasileira, mostra profundo interesse pela produção de Ângela Alvim,
culminando na publicação francesa pela Éditions
Arfuyen.
Atraído e envolvido pela poesia de Maria
Ângela Alvim, Herberto Hélder escreve para família da poeta – especificamente
para Maria Lúcia Alvim. Na carta, o poeta português faz alguns comentários sobre
a qualidade textual da obra de Maria Ângela Alvim e a importância que dá a ela,
conforme pode ser observado no fragmento abaixo extraído da carta: A poesia de sua irmã foi para mim uma
revelação, e gostaria muito que o maior número possível de pessoas partilhasse
do ganho espiritual que obtive com a leitura
dela.
Dentre os
teóricos que fizeram menção à produção de Maria Ângela Alvim, temos na filóloga
e professora de literatura brasileira na Itália, Luciana Stegagno-Picchio, o
principal nome. Mais recentemente, André Seffrin, crítico e ensaísta, organizou e prefaciou a obra Roteiro da poesia brasileira – anos
50, pela Editora Global e inseriu
três poemas de Maria Ângela Alvim, sendo: Cassandra (Poemas), De tudo me
afastei, por não querença (Ibidem) e Inteira me deixo aqui,
(Ibidem). A obra foi lançada no final de
2007.
A vida e obra de Maria Ângela Alvim, se entrelaçam e a
voz que ecoa nos versos se faz ouvir por gemidos. Não há gritos de dor, mas um
sussurrar melancólico movido pela incompatibilidade com o mundo: “Não
reconheço meu mundo”, afirma o verso conclusivo do poema.
SONETO AO AMIGO
Procure ao largo de alma o lenitivo
para este mal da vida, sem promessa.
O corpo vive alheio a se ter vivo,
quando fome maior nos arremeça.
Temos
todos, enfim, um amor cativo
que
tudo pode e inflama e tudo cessa
quando
liberto em si vê seu motivo
e este
amor dê tudo e nada peça.
Cante
em sua voz o rito e os dissabores
do
tempo e acontecer mas abstraindo
aspecto
transitório e fáceis cores.
Só o
amor, enquanto é, nos anistia:
se,
ele, seres, coisas, verso vindo,
são
refúgios do medo sem poesia.
SEMPRE DISTANTE
Sempre
distante amor e perto anseio,
e triste descambar do adeus e a ida,
em promessa que apenas prometida
tanto levou do ser que o fez alheio.
De outra morte, morrer opõe receio?
Morre um morto após si, já em seguida
à perda ao largp de alma tão perdida?
Mortos são os que morrer vida em meio.
São vivos de amor, que amor esquece,
e, súbito, na morte amadurece
antes de tudo mais que vai morrendo.
Feridos numa dor que está vivendo
no arrastar em gemido e em passo
tardo,
ter sido, mais que ser, terrível fardo.
Fontes
de pesquisa:
Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)
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