Luiza Neto Jorge
(1939 - 1993)
Luiza Neto Jorge nasceu em Lisboa,
10 de maio de 1939, filha do advogado Ricardo Jorge Rodrigues e Adriana
Neto.
Após seus pais se separarem, foi
morar com o pai, no então chamado Bairro das Colónias, aos Anjos, onde
frequentou a escola primária. Há referências a esse período no poema
autobiográfico "Aos Quarenta Anos Meus" : ' a proximidade do
Castelo de São Jorge ("de eléctrico andava a correr meio mundo// subia a colina
ao castelo fantasma"), Os problemas respiratórios ( "...E sofria de
asma, alma e ar reféns dentro do pulmão"), a instrução primária salazanista
(Salazar três vezes, no eco da aula"), os jogos de infância no Jardim
dos Anjos ("e o meu coito quando jogava a apanhar/era nesse tronco do Jardim
dos Anjos"), o fim da guerra ("acabou a guerra e meu pai grita
"Viva!"), os passeios até o Terreiro do Paço ("Deflagaram no rio
golfinhos brinquedos//Já bate no cais das colunas uma/onda ultramarinha onde
singra um barco/para cacilhas..."), as idas ao cinema Lis, na Avenida
Almirante Reis ("No cinema lis luz o projector/e o FIM através do tempo
retine")' .
Luiza Neto Jorge frequentou a
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mas desistiu do curso e foi viver
em Paris, durante oito anos (1962/1970).
Ainda hoje é considerada a
personalidade de maior destaque do grupo de poetas que se reunia em Poesia
61, no âmbito do qual publicou "Quarta Dimensão". Sua estréia
literária foi o livro "Noite Vertebrada" (1960).
Segundo Joaquim Manuel Magalhães,
"numa geração que não conseguiu escapar ao maneirismo gramatical, ao tédio de
uma ausência de vocações temáticas múltiplas, à insistente sobrevalorização da
busca prosódica, a obra de Luiza Neto Jorge representa um esforço e um
conseguimento exemplares de amplidão imaginativa, de renovação prossesual e de
ímpeto transformador".
Como tradutora deixou uma obra
inigualável, nos domínios da poesia, da ficção e do teatro, abrangendo autores
como Céline - Morte a Crédito, que valeu-lhe o prêmio de
tradução do Pen-Clube - Sade, Goethe ("O Fausto"), Verlaine, Breton,
Stendhal, Garcia Lorca, Ionesco, entre muitos outros.
Fez adaptações de textos para
teatro e colaborou com alguns cineastas, tendo escrito diálogos para filmes de
Paulo Rocha e o argumento de Os Brandos Costumes, de Alberto Seixas
Santos. Também escreveu poemas avulsos em algumas publicações, como da revista
Colóquio-Letras, não publicou nenhum livro nos seus útimos 16 anos de
vida.
A presença de Luiza Neto Jorge está
em quase todas as antologias de poesia portuguesa contemporânea - editadas em
Portugal e no estrangeiro - e tem grande parte dos poemas traduzidos para
diversos idiomas.
EU, ARTÍFICE
Atento agora ao traço,
corrijo o mais da
matéria,
ergo a minha arte do
poço
onde flutua.
Como o brilho se
desprende
do metal mais bravo,
no forro de cada um
o desgaste é tanto
que eu, artífice, colho
o que de mim alimenta,
falo do que estou sendo,
da sua mão em desordem,
dos passos, das lágrimas
baixas
que se vão constituindo.
A QUEM SE INTERESSE
A quem se interesse
por tecidos, peles
sistemas de ocultação.
lembro Bartolomeu
santo, mártir, manequim,
o que há séculos passeia
sobre os ombros
ou dependurada no ombro
feita capa
a sua pele escorrachada.
Adereços:
os pés e as mãos,
a murcha máscara
da cara.
** ** **
Fontes de Pesquisa:
Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)
Nenhum comentário:
Postar um comentário