ABGAR
RENAULT
(1901 - 1995)
Abgar de Castro Araújo Renault foi
um professor, educador, político, poeta, ensaista e tradutor brasileiro. Ocupou
a cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras e a cadeira 3 da Academia
Brasileira de Filologia.
Filho de Leon Renault e de Maria
José de Castro Araújo Renault, casou-se com D. Ignez Caldeira Brant Renault, com
quem teve três filhos, Caio Márcio, Carlos Alberto e Luiz Roberto e deles três
netos, Caio Mário, Abgar e Flávio, e uma bisneta, Ignez.
Sua formação escolar foi em Belo
Horizonte, onde começou a exercer o magistério. Foi professor no Ginásio Mineiro
de Belo Horizonte e na Universidade Federal de Minas Gerais.
Posteriormente, mudou-se para o Rio
de Janeiro e deu aulas no Colégio Pedro II e na Universidade do Distrito
Federal.
Foi eleito deputado estadual por
Minas Gerais e exerceu o cargo de direção do Colégio Universitário da
Universidade do Brasil e no Departamento Nacional de Educação.
Foi ainda secretário da Educação do
Estado de Minas Gerais em dois governos, quando se notabilizou por incentivar o
ensino no meio rural. Foi também Ministro de Educação e Cultura no governo de
Nereu Ramos e ministro no Tribunal de Contas da União e dirigiu o Centro
Regional de Pesquisas Educacionais João Pinheiro em Belo Horizonte.
No período de 1956 a 1959, foi
membro da Comissão Internacional do Curriculum Secundário da Unesco. Em 1963
atuou como consultor da Unesco na conferência sobre Necessidades Educacionais da
África em Adid Abeba.
Abgar Renault representou o Brasil
em numerosas conferências sobre educação, em Londres, Genebra, Paris, Teerã,
Belgrado e Santiago do Chile. Por várias vezes foi eleito membro da Redação
Final dos documentos dessas reuniões.
Como professor, sempre ligado à
educação e preocupar-se com a língua protuguesa, de que foi um conhecedor exímio
e representante fiel, foi nomeado Professor Emérito da Universidade Federal de
Minas Gerais.
Abgar Renault registrou todos os
seus estudos e reflexões em A Palavra e a Ação (1952) e em Missões
da Universidade (1955). Além do que, foi grande poeta fazendo parte do
grupo surrealista moderno e partipou do movimento modernista de Minas Gerais,
sempre com dedicação à literatura contemporânea. Apesar de ter sua obra
associada ao Modernismo, escrevia uma poesia original, não ligada a nenhuma
escola poética. Suas poesias tem sido incluidas em antologias no Brasil e
exterior.
Em 31 de dezembro de 1995, Abgar
Renault faleceu no Rio de Janeiro, aos 94 anos de idade.
ALEGORIA
Em vão busco acender um diálogo
contigo:
a alma sem tom da tua boca de água
e vento
despede cinza, névoa e tempo no que
digo,
devolve ao chão o meu mais longo
pensamento.
E entre cactos estira esse deserto
ambíguo
que vem da tua altura ao vale onde
me ausento,
procurando o teu verbo. O silêncio,
investigo-o
e ouço o naufrágio, o vácuo e o
desaparecimento.
Sonho: desces a mim de um céu de
algas e rosas,
falas às minhas mãos vozes
vertiginosas
e palavras de flor no teu cabelo
enastro.
Desperto: pairas ainda em silêncio
e infinita:
meu ser horizontal chora treva e
medita
tua distância, teu fulgor, teu
ritmo de astro.
******
ENCANTAMENTO
Ante o deslumbramento do teu
vulto
sou ferido de atônita
surpresa
e vejo que uma auréola de
beleza
dissolve em lua a treva em que me
oculto.
Estás em cada reza do meu
culto,
sonhas na minha lânguida
tristeza
e, disperso por toda
natureza,
paira o deslumbramento do teu
vulto.
É tua vida a minha própria
vida,
e trago em mim tua alma
adormecida...
Mas, num mistério surdo que me
assombra.
Tu és, às minhas mãos, fluida,
fugace,
como um sonho que nunca se
sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra
sombra.
******
SONETO
IMPOSSÍVEL
Não ouvirás nem luz, nem sombra
inquieta
das sílabas que beijam tuas
asas,
nem a curva em que morre a ardente
seta,
nem tanta eternidade em horas
rasas.
Não medirás a bêbeda
aorola
que abriste no final do meu
sorriso,
nem tocarás o mel que canta e
rola
na insônia sem estradas onde
piso.
Não saberás o céu construido a
fogo,
que tua jovem chave cerra e
empena,
nem os braços de espuma em que me
afogo.
Não verão os teus olhos
quotidiana
a minha morte de homem
embebida
no flanco de ouro e luar da tua
vida.
Fontes de pesquisa:
Eliana Ellinger (Shir)
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