CAMILO
PESSANHA
(1867 - 1926)
Camilo de
Almeida Pessanha, foi um poeta português, considerado expoente máximo so
simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da
fragmentação.
Nasceu como filho ilegítimo de
Francisco António de Almeida Pessanha, um estudante de direito e aristocracia, e
Maria Espírito Santo Duarte Nunes Pereira, sua empregada, em 7 de setembro de
1867, na Sé Nova, Coimbra, Portugal.
Formou-se no curso de direito em
Coimbra, foi Procurador Régio em Mirandela (1892) e Advogado em Óbidos. Em 1894
transfere-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia
Elementar no Liceu de Macau, deixando de lecionar por ter sido nomeado, em 1900,
Conservador do Registro Predial em Macau e depois Juiz de Comarca. Entre 1894 e
1915, voltou a Portugal algumas vezes, para tratamento de saúde e, numa delas,
foi apresentado a Fernando Pessoa que era apreciador de suas
poesias.
Camilo pulicou poemas em várias
revistas e jornais, mas seu único livro "Clepsidra" (1920), foi publicado sem a
sua participação (pois se encontrava em Macau) por Ana de Castro Osório, a
partir de autógrafos e recortes de jornais. Graças a essa iniciativa, os versos
de Pessanha se salvaram do esquecimento. Posteriormente, o filho de Ana de
Castro Osório, João de Castro Osório, ampliou a "Clepsidra" original,
acrescentrando-lhe poemas que encontrou. Essas edições foram publicadas em
1945, 1954 e 1969. Além das características simbolistas que sua obra assume, o
poeta antecipa alguns princípios modernstas.
Camilo Pessanha buscou em Charles
Baudelaire, proto-simbolista francês, o termo "Clepsidra", praticando uma
poética sugestão como proposta de Mallarmé, evitando nomear um objeto direta e
imediatamente. Por outro lado, segundo o pesquisador da Universidade do Porto
Luís Adriano Carlos, "o seu chamado metaforismo entraria no mesmo rol
estético do imaginismo, do inteseccionismo e do surrealismo, buscando relações
analógicas entre significante e significado, por intermédio da dinâmica dos dois
planos".
Junto de sua fragmentação
sintática que, segundo a pesquisadora da Universidade do Minho, Maria do Carmo
Pinheiro Mendes, "substitui um mundo ordenado segundo leis universalmente
reconhecidas por um mundo fundado sobre a ambiguidade, a transitoriedade e a
fragmentação", podemos encontrar em sua obra, de acordo com os autores
citados, duas características que costumam ser mais relacionadas à poesia
moderna que ao simbolismo mais convencional.
Apesar da pequena dimensão da sua
obra, Pessanha é considerado um dos poetas mais importantes da língua
portuguêsa.
Camilo Pessanha faleceu em Macau,
no dia 1 de março de 1926, devido ao uso excessivo de
ópio.
INTERROGAÇÃO
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
** ** **
CANÇÃO DA PARTIDA
Ao meu coração um peso de ferro
Eu hei-de prender na volta do mar.
Ao meu coração um peso de ferro...
Lançá-lo ao mar.
Quem vai embarcar, que vai degredado,
As penas do amor não queira levar...
Marujos, erguei o cofre pesado,
Lançai-o ao mar.
E hei-de mercar um fecho de prata.
O meu coração é o cofre selado.
A sete chaves: tem dentro um carta...
A última, de antes do teu noivado.
A sete chaves a carta encantada!
E um lenço bordado... Esse hei-de o levar,
Que é para o molhar na água salgada
No dia em que enfim deixar de chorar.
** ** **
EM UM RETRATO
De sob o cômoro quadrangular
Da terra fresca que me há-de inumar,
E depois de já muito ter chovido,
Quando a erva alastrar com o olvido,
Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Há-de ir humilde, atravessando o mar,
Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido.
Eliana (Shir) Ellinger
Fontes de Pesquisa:
www.pt.wikipedia.org
www.citador.pt