Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









domingo, 25 de janeiro de 2015

CAMILO PESSANHA



CAMILO PESSANHA

(1867 - 1926)


Camilo de Almeida Pessanha, foi um poeta português, considerado expoente máximo so simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação.
Nasceu como filho ilegítimo de Francisco António de Almeida Pessanha, um estudante de direito e aristocracia, e Maria Espírito Santo Duarte Nunes Pereira, sua empregada, em 7 de setembro de 1867, na Sé Nova, Coimbra, Portugal.
Formou-se  no curso de direito em Coimbra, foi Procurador Régio em Mirandela (1892) e Advogado em Óbidos. Em 1894 transfere-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau, deixando de lecionar por ter sido nomeado, em 1900, Conservador do Registro Predial em Macau e depois Juiz de Comarca. Entre 1894 e 1915, voltou a Portugal algumas vezes, para tratamento de saúde e, numa delas, foi apresentado a Fernando Pessoa que era apreciador de suas poesias.

   

Camilo pulicou poemas em várias revistas e jornais, mas seu único livro "Clepsidra" (1920), foi publicado sem a sua participação (pois se encontrava em Macau) por Ana de Castro Osório, a partir de autógrafos e recortes de jornais. Graças a essa iniciativa, os versos de Pessanha se salvaram do esquecimento. Posteriormente, o filho de Ana de Castro Osório, João de Castro Osório, ampliou a "Clepsidra" original, acrescentrando-lhe poemas que encontrou.  Essas edições foram publicadas em 1945, 1954 e 1969. Além das características simbolistas que sua obra assume, o poeta antecipa alguns princípios modernstas.
Camilo Pessanha buscou em Charles Baudelaire, proto-simbolista francês, o termo "Clepsidra", praticando uma poética sugestão como proposta de Mallarmé, evitando nomear um objeto direta e imediatamente. Por outro lado, segundo o pesquisador da Universidade do Porto Luís Adriano Carlos, "o seu  chamado metaforismo entraria no mesmo rol estético do imaginismo, do inteseccionismo e do surrealismo, buscando relações analógicas entre significante e significado, por intermédio da dinâmica dos dois planos".

   

Junto de sua fragmentação sintática que, segundo a pesquisadora da Universidade do Minho, Maria do Carmo Pinheiro Mendes, "substitui um mundo ordenado segundo leis universalmente reconhecidas por um mundo fundado sobre a ambiguidade, a transitoriedade e a fragmentação", podemos encontrar em sua obra, de acordo com os autores citados, duas características que costumam ser mais relacionadas à poesia moderna que ao simbolismo mais convencional.
Apesar da pequena dimensão da sua obra, Pessanha é considerado um dos poetas mais importantes da língua portuguêsa.
Camilo Pessanha faleceu em Macau, no dia 1 de março de 1926, devido ao uso excessivo de ópio.

INTERROGAÇÃO
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
** ** **
CANÇÃO DA PARTIDA
Ao meu coração um peso de ferro
Eu hei-de prender na volta do mar.
Ao meu coração um peso de ferro...
        Lançá-lo ao mar.

Quem vai embarcar, que vai degredado,
As penas do amor não queira levar...
Marujos, erguei o cofre pesado,
        Lançai-o ao mar.

E hei-de mercar um fecho de prata.
O meu coração é o cofre selado.
A sete chaves: tem dentro um carta...
A última, de antes do teu noivado.

A sete chaves  a carta encantada!
E um lenço bordado... Esse hei-de o levar,
Que é para o molhar na água salgada
No dia em que enfim deixar de chorar.
** ** **
 EM UM RETRATO
De sob o cômoro quadrangular
Da terra fresca que me há-de inumar,

E depois de já muito ter chovido,
Quando a erva alastrar com o olvido,

Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Há-de ir humilde, atravessando o mar,

Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido.




Eliana (Shir) Ellinger
Fontes de Pesquisa:
www.pt.wikipedia.org
www.citador.pt



HERBERTO HELDER



Herberto Helder



Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, Ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Em 1946, com 16 anos, viaja para Lisboa para frequentar o 6º e o 7º ano do curso liceal. Em 1948, matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo terminado o curso. Três anos mais tarde regressa a Lisboa, começando por trabalhar durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos e depois como angariador de publicidade, sendo que durante este tempo vive, por razões de ordem vária e pessoal, numa «casa de passe».
Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como meteorologista, seguindo depois para a Ilha de Porto Santo. Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redator de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, "O Amor em Visita". Durante os anos que se seguiram vive na França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.

  

Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros  "A Colher na Boca" , "Poemacto" e "Lugar" . Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional como redator de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica "Os Passos em Volta"  e produz "A máquina de emaranhar paisagens". Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda "Os Passos em Volta", escreve «Comunicação Académica» e publica "Electronicolírica" . Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental  e no ano seguinte publica "Húmus" , "Retrato em Movimento"  e  "Ofício Cantante"

  

Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, fato este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e diretor literário. Ainda nesse ano publica os livros " Apresentação do Rosto" , que foi suspenso pela censura, "O Bebedor Nocturno",  "Kodak"  e "Cinco Canções Lacunares".
Em 1970 viaja pela Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, publicando nesse ano a terceira edição de "Os Passos em Volta"  e escreve "Os Brancos Arquipélagos".

   


Em 1971 desloca-se para Angola onde trabalha como redator numa revista. Enquanto repórter de guerra, é vítima de um grave desastre tendo que ser hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de "Vocação Animal"  e a produção de "Antropofagias" . Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os E.U.A., em 1973, ano durante o qual publica "Poesia Toda" , obra que contém toda a sua produção poética.  Em 1975 passa alguns meses na França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa onde trabalha na rádio e em revistas, meios restritos de sobrevivência econômica. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova  que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura Portuguesa características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direção literária revolucionária cuja atividade não ultrapassou o plano teórico devido à instabilidade política portuguesa . Nos anos que se seguiram publicou as obras "Cobra"; "O Corpo, O Luxo, A Obra" e "O Photomaton e Vox" .
 A última referência encontrada da instabilidade biográfica de Herberto Helder referia-se ao fato de o poeta ter abandonado todas as suas anteriores atividades e de viver no mais cioso dos anonimatos.


SOBRE POEMA
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto.
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
** ** **
SE HOUVESSE DEGRAUS NA TERRA...
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez~se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou a maçã para outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
** ** **
FONTE
Ela é a fonte. Eu posso saber que é
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo...
Cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.
Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.
Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.
Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta sutil de ferocidade
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.
Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e rensceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ÉRICO JOSÉ CURADO



ÉRICO CURADO
(1880 - 1961)
 
 
Érico José Curado, filho de Luiz Fleury de Campos Curado e de Maria Joaquina de Faria Lobo, nasceu em Pirenópolis, Goiania,  a 18 de maio de 1880 e foi um escritor, jornalista e advogado brasileiro. Mas, principalmente poeta considerado "O Pioneiro da Escola Simbolista de Goiás".
Em 1884, iniciou seu aprendizado da leitura com uma escrava de seus avós maternos, com quem passou a morar, numa fazenda. Transferiu-se em 1888 para Corumbá de Goiás, onde frequentou escola pública.
Quando jovem, viajou pelos rios nos Araguaia e Tocantins, vendendo mercadorias e comprando borracha.
Ao receber na cidade de Goiás Velho a visita de seu irmão João José, que era oficial do exército, decidiu ir ao Rio de Janeiro, em 1897, tentar a vida militar. Ingressou na Escola Militar, cuja carreira foi interrompida para retornar ao comércio em Araguari, Minas Gerais, e Vila Boa, antiga capital de Goiás.
Érico Curado continuou seus estudos e formou-se em Direito, em 1916. Antes, em 1910, já fora nomeado Promotor Público da cidade de Goiás, quando passa a se relacionar com os intelectuais da terra e a escrever para os jornais da época.
Seu primeiro livro de sonetos publicado foi "Iluminuras", e, quarenta anos depois,
conduz ao prelo sua segunda obra, "Poesias". Tido como a maior expressão da corrente simbolista em Goiás, Érico apresentava fortes tendências ao que então chamava de "nefelibatismo".
A 29 de setembro de 1957, tomou posse na Cadeira 11 da Academia Goiana de Letras, cujo Patrono é Rodolfo da Silva Marques, que antes fora ocupada pelo Príncipe dos Poetas de Goiás, Leo Lynce, e que a partir de 11 de março de 1962 passou a ser ocupada pelo outro príncipe dos Poetas de Goiás, Gilberto Mendonça Teles.
Em 11 de janeiro de 1961, Érico Curado faleceu em Goiânia.
 
SONETO
 
(de Iluminuras)
 
Gusla maviosa - ou trêmulos violinos...
Luas de maio, ó brisas vesperais,
Olhos que exaltam sonhos levantinos,
Linhas quebrando em formas imortais!
 
Sinfonias da luz, nênias de sinos,
Lendas e sagas, noites medievais,
Lírios e rosas, níveos, purpurinos,
Fazei meis versos vagos, musicais!...
 
Fazei meus versos de um lalor sutil...
Rimas brilhando em cadencioso aceno,
Murmúrio esparso de um rosal de abril!
 
Fazei meus versos leves, como um trilo,
Como o sorrir de um bamdolim sereno:
Salmos de amor, em blandioso estilo!...
 
** ** **
 
SONETO VI
 
(de Iluminuras)
 
Quando tu cantas nessa voz dolente,
Queixosa e amarga, voz das elegias...
Quando tu cantas, minha alma de crente,
Benta na unção das velhas liturgias...
 
Parece que se evola brandamente,
Para as regiões daluz, das harmonias;
E, comovida e terna e reverente,
Fica absorta n'um sonho de magias...
 
Tarde. Angelizam-se do poeta as cores,
Sobe da Terra um salmo de amargores
E a noite cai povoada de fatigas...
 
Ah! Canta nessa voz abemolada,
De dores, de saudades repassadas,
Cheia das mágoas das canções.
 
** ** **
 
À TARDE, NUVENS E ROSAS
 
À tarde, nuvens e rosas
Franjam de sangue o horizonte,
Um monte além outro monte,
Entre sonbras misteriosas.
 
As águas cantam ruidosas,
Luzindo à sombra da ponte.
São frescas águas da fonte,
Que vão cantando saudosas...
 
Em bandos passam morcegos,
As rãs coacham nos regos
Geme o vento em disparada... 
 
E entre as estrelas, no poente,
O arco-de-ouro do Crescente
É uma foice ensanguentada!


Fontes de pesquisa:
 



Trabalho de Pesquisa:  Eliana Ellinger
  


ANTÔNIO MARIANO ALBERTO DE OLIVEIRA



ALBERTO DE OLIVEIRA
(1857 - 1937)
Antônio Mariano Alberto de Oliveira,  nasceu em Palmital de Saquarema, Niterói, foi um poeta, professor e farmacêutico, figura como líder do Parnasianismo brasileiro, na famosa tríade Alberto de Oliveira, Raimundo Correa e Olavo Bilac. Foi Secretário Estadual de Educação, membro honorário e imortal da Academia Brasileira de Letras, adotou o nome literário Alberto de Oliveira.
Seus primeiros estudos foram realizados em Escola Pública. Formou-se em farmácia, 1884, frequentou o curso de medicina, onde conheceu Olavo Bilac. Porém, ambos abandonaram a faculdade. Alberto de Oliveira seguiu sua carreira farmacêutica e casou-se, em 1889, com Maria da Glória Moreira, com a qual teve um filho.
Após a glória literária, destacou-se na política como Oficial de Gabinete do Primeiro Presidente de Estado/RJ, eleito José Thomaz da Porciúncula (1892-1894), do Partido Republicano Fluminense.
Alberto de Oliveira foi professor de português e literatura no Colégio Pio-Americano (1095), na Escola Dramática e Escola Normal (1914), dirigida por Coelho Neto.

Envolveu-se com os fundadores da Gazeta de Notícias , Manuel Carneiro e Ferreira de Araujo, publicando poemas posteriormente reunidos no seu livro Canções Românticas e conhecendo neste jornal Machado de Assis.


A pedido dos leitores, publicou Sonetos e Poemas (1885), consagrando-se junto ao público e, em 1895, Versos e Rimas.
Depois de quatro livros publicados, foi convidado por Machado de Assis para a Fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, ocasião em que se ve a longevidade do convívio entre o romancista e o poeta.
Com Raimundo Correia e Olavo Bilac, formou a tríade mais representativa da Idéia Nova da Nova Geração, hoje chamado Parnasianismo.



Nos últimos anos de sua vida, proferiu conferência "O Culto da Forma de Poesia Brasileira" (1913, na Biblioteca Nacional de São Paulo) e ainda foi homenageado pelo Jornal do Commércio, em 1917. No mesmo ano, recebeu Goulart de Andrade na Academia Brasileira de Letras. Foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, pelo concurso da Revista Fon-Fon (1924), título desocupado desde a morte de seu amigo Olavo Bilac. Em 1935, prestigia o Cenáculo Fluminense de História e Letras, com sua gloriosa presença. Sem dúvida o Poeta-Professor é "Andarilho Fluminense", semeando Lirísmo e Educação em todos os lugares por onde passou: Saquarema, Rio Bonito, Itaboraí, São Gonçalo, Campos, Araxá, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.
Seus incontáveis versos falam da punjança da natureza fluminense e dos encantos da mulher brasileira, ambas frequentemente evocadas pela memória. Os temas da Grécia Antiga, que caracterizam o Parnasianismo de moldes franceses, formam uma pequena minoria de suas obras.
Alberto de Oliveira faleceu em Niterói, dia 19 de janeiro de 1937. Ve-se sua herma no Jardim do Russel (Rio de Janeiro), obra do escultor Petrus Verdier, outra no jardim de entrada da sede histórica da Prefeitura Municipal de Niterói, obra do escultor H. Peçanha.


DOLORA
Dizia-me a razão, antes de ve-la:
-"Não vás lá, se não quiseres ser sujeito
Ao seu olhar que é como o olhar da estrela..."
Fui. E agora a razão me diz: - "Bem feito!"
E ardo e choro. E, ebriado de ventura,
Na própria pena que o lacera e rala,
O coração aplaude-me a loucura:
- "Fizeste bem!", o coração que fala.

***

ACORDANDO
Quero-te, vem! se acaso da neblina
Do sonho as formas desatar te é dado,
Se não és sonho tu, se ora acordado,
Posso tocar-te, sombra peregrina!
Com o mesmo rosto pálido e magoado,
Triste o sorriso a boca purpurina,
Com o todo, enfim, de aparição divina,
Rompe a névoa, meigo vulto amado!
Encarna-te! aparece! exurge! acode!
E em minha fronte a coma ondeante e escura,
Cheia de orvalhos, úmida, sacode;
Mas se te dói pisar este medonho
Chão de abrolhos que eu piso, imagem pura,
Toma outra vez a aparecer-me em sonho.




Trabalho de Pesquisa:  
Eliana (Shir) Ellinger


BERNARDINO DA COSTA LOPES


BERNARDINO LOPES
(1859 - 1916)
O poeta mulato Bernardino da Costa Lopes, nasceu no arraial de Boa Esperança (Rio Bonito), Província do Rio de Janeiro, antes do fim da escravidão, mas como filho de pais livres e membros da classe média pobre: o pai, Antônio Costa Alves, era escrivão e sua mãe, Mariana, costureira, obteve aceitação literária na sociedade devido principalmente a suas poesias.
B. Lopes foi um dos fundadores da Folha Popular (1891), onde foi lançado o primeiro manifesto ao Simbolismo no Brasil. Chegou a gozar de certo prestígio na época, inclusive a prefaciar o primeiro livro de versos (Anforas) de Jonas da Silva e teve epígonos que o imitaram, influenciados principalmente através de volume Cromos em várias partes do país.
Bernardino era amigo pessoal de Olavo Bilac e se encontravam na casa da Princesa Isabel, onde conheceu Cleta Vitória de Macedo, com quem veio a casar e teve cinco filhos, todos homens.
Casado, desorganizou sua vida por motivos de ordem sentimental e entregou-se ao álcool. Foi ridicularizado no fim da vida por conta de um soneto infeliz, de louvor ao Marechal Hermes da Fonseca.
Conhecido por B. Lopes, fazia parte da boemia intelectual e sua poesia recolhe diferentes tendências da passagem do século XIX ao XX. Da primeira etapa, vista como parnasiana, é "Cromos" (1881), com o qual obteve reconhecimento nacional.
Seus "Cromos" representam - segundo Alfredo Bosi - "uma linha rara entre nós: a poesia das coisas domésticas, os rítmos do cotidiano".
Junto com Cruz e Souza, Emiliano Perneta e Oscar Rosas, Bernardino Lopes formou o primeiro grupo de simbolistas brasileiros. Desse novo período, fazem parte "Brasões" (1895) e "Val delírios" (1900), entre outros.



B. Lopes viveu os esplendores das duas correntes literárias com as obras poéticas: Cromos (1881), Pizzicatos (1886), Dona Carmen (1894), Brasões (1895), Sinhá Flor (1899), Val delírios (1900), Helenos (1901) Patriarca (1904) e Plumário (1905).
Em 1906, B. Lopes morre de tuberculose. A hibridez de suas poesias, parnasianas e simbolistas, continuam a merecer novos leitores.

PER PURA
Clara manhã, rutilante
Ascende o sol no horizonte;
Corre uma aragem fragrante
Por vale, planície e monte,
Trazendo nas finas asas
Um lindo som de cantigas.
De cima daquelas casas,
Casinhas brancas e amigas,
Sobem fumos azulados
E há pombos pelos telhados.
Cresce o rumor das cantigas...
Surge um farrancho de gente
Alegre, farta e contente,
De samburás e de gigas.
Andam colhendo espigas
Do milharal pardo e seco;
É dali que vem o eco
De tão bonitas cantigas...
Cantai, cantai, raparigas!
** ** **
QUANDO EU MORRER
Quando eu morrer em véspera tranquila,
Num por-do-sol de goivos e saudade,
Da velha igreja, que a Madona asila,
O sino grande a soluçar Trindade;
Quando o tufão do mar que me aniquila
soprar minh'alma para a Eternidade,
Todas as flores dos jardins da vila,
Certo, eu terei da tua caridade.
E, já na sombra amiga do cipreste,
Há de haver uma lágrima piedosa,
A edência gota, a pérola celeste,
Para quem desfolhou, temo, e as mãos cheias,
O lírio, o bogari, o cravo e a rosa,
Pelas estradas brancas das aldeias.

 Tranalho de Pesquisa: Eliana (Shir) Ellinger