CARLOS PENA
FILHO
(1929 -
1960)
Filho de pais portugueses, Carlos
Souto Pena e Laurinda Souto Pena, foi um poeta brasileiro considerado um dos
mais importantes poetas pernambucanos na segunda metade do século XX, depois de
João Cabral de Melo Neto.
Em 1937, com a separação dos
pais, mudou-se para Portugal junto com a mãe e irmãos, Fernando e Mário, indo
morar na casa dos avós paternos. Lá viveu dos oito aos doze
anos de idade, quando retornou ao Brasil.
Carlos Pena Filho fez o curso
primário enquanto esteve em Portugal e o curso secundário no Recife. Formou-se
em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, em frente à qual hoje se
encontra o busto do poeta.
Em sua
homenagem,
a escultura na
Praça
da
Independência.
Como advogado atuou na repartição
do Estado e, em paralelo, trabalhou como jornalista no Diário de Pernambuco e
Jornal do Commercio, onde fez reportagens, escreveu crônicas e publicou alguns
de seus poemas.
Durante a vida contou com a
amizade e admiração de muitos escritores e poetas de renome. Conviveu
estreitamente com Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, João Cabral de Melo Neto,
Moura Mota, Gilberto Freyre e Jorge Amado, dentre outros.
Carlos Pena Filho faleceu aos 31
anos, vítima de um acidente de carro ocorrido em 2 de junho de 1960, no
Recife.
Sua obra poética é de um lirismo
envolvente, com uma imagem plástica onde se destaca a cor, o movimento e a luz.
Escreveu vários poemas, tendo nos títulos a palavra 'retrato' e cerca de uma
centena contendo os nomes das cores ou referências a elas. Dentre outras,
possuia forte interesse no Azul, a ponto de alguns poemas afirmarem que se trata
de uma "poesia vestida de azul". Seu primeiro trabalho como poeta, o soneto
"Marinha", foi publicado em 1947 pelo Diário de Pernambuco. Em 1952, publicou o
primeiro livro: "Tempo da Busca".
Ainda estudante, publicou
"Memórias do Boi Serapião", em 1956. Bacharelou-se em 1957 e no ano seguinte seu
terceiro livro "A Vertigem Lúcida", premiado pela Secretaria de Educação e
Cultura de Pernambuco. Em 1959, o "Livro Geral", reunindo sua obra poética já
editada acrescida de poemas novos (Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do
Livro).
Compositor, em parceria com
Capiba, renomado músico pernambucano, foi autor de letras de músicas de sucesso,
entre as quais destaca-se "A mesma rosa amarela", incorporada ao movimento de
Bossa Nova na voz de Maysa.
SONETO
OCO
Neste papel
levanta-se um soneto
de lembranças
antigas sustentado,
pássaro de
museu, bicho empalhado,
madeira
apodrecida de coreto.
De tempo e
tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco
metal, agora é preto.
E talvez seja
apenas um soneto
de si mesmo
nascido e organizado.
Mas ninguém o
verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei
como foi arquitetado
e nem me lembro
quando apareceu.
Lembranças são
lembranças, mesmo pobres,
olha pois este
jogo de exilado
e vê se entre
as lembranças te descobres.
** **
**
PARA FAZER UM
SONETO
Tome um pouco
de azul, se a tarde é clara,
e espere um
instante ocasional
neste curto
intervalo Deus prepara
e lhe oferta a
palavra inicial.
Aí, adote uma
atitude avara
se você
preferir a cor local
não use mais
que o sol da sua cara
e um pedaço de
fundo de quintal.
Se não procure
o cinza e esta vagueza
das lembranças
da infância, e não se apresse
antes, deixe
leva-lo a correnteza.
Mas ao chegar
ao ponto em que se tece
dentro da
escuridão a vã certeza,
ponha tudo de
lado e então comece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário