DANTE MILANO
(1899 - 1991)
Dante Milano nasceu no Rio de
Janeiro, filho do maestro Nicolino Milano e Corina Milano. Ainda na infância,
sofre dificuldades financeiras após o pai abandonar a
família.
Impedido de cursar o ginásio,
Dante torna-se auto-didata e aprende inglês, francês e italiano. Torna-se
ajudante de revisor na redação do Jornal da Manhã e, aos 17 anos, revisor da
Gazeta de Notícias e foi também funcionário do Juizado de Menores, no Ministério
da Justiça.
Ainda na adolescência, começa a
escrever seus primeiros poemas e publicou o primeiro, "Lágrima Negra", em 1920,
na revista Selecta. Na época trabalhava como empregado na contabilidade da Ilha
das Cobras, RJ. Nos anos de 1930, foi colaborador do suplemento "Autores e
Livros", de "A Manhã" e do "Boletim de Ariel".
Em 1935, organizou a "Antologia
dos Poetas Modernos", primeira antologia de poetas desta
fase.
Seu primeiro livro, "Poesias", foi
publicado em 1949 e recebeu o "Prêmio Felipe d'Oliveira" de melhor livro de
poesias do ano. Nos anos seguintes trabalhou como tradutor, lançando, em 1953,
"Três Cantos do Inferno", de Dante Alighieri.
Em 1979, Dante Milano publicou
seu livro "Poesia e Prosa" e, em 1988, " Poemas Traduzidos de Baudelaire e
Mailarmé". No mesmo ano recebeu o "Prêmio Machado de Assis", concedido pela
Academia Brasileira de Letras.
Dante Milano é um dos poetas
representativos da terceira geração do Modernismo. Para o crítico David
Arrigicci Jr., "Milano, como o amigo Bandeira, refletiu muito sobre a morte,
casando o pensamento à forma enxuta de seus versos - lírica seca e meditativa,
avessa ao fácil artifício, onde o ritmo interior persegue em poemas curtos, com
justeza e sem alarde o sentido".
LAGRIMA
NEGRA
Aperte fortemente a pena
ingrata
entre os dedos nervosos e
trementes,
e os versos jorram, claros e
estridentes,
n'uma cascata, n'uma
catarata!
Escrevo e canto cânticos
ardentes,
enquanto dos meus olhos se
desata
uma fiada de lágrimas de
prata
como um colar de pérolas
pendentes...
Eu canto o sofrimento, a ânsia
incontida
de amor, que é a maior ânsia desta
vida,
vida que a humanidade se
condena!
E todo o meu sofrer, todo, se
pinta
n'este pingo de dor...pingo de
tinta,
lágrima negra que me cai da
pena!
** ** **
AO TEMPO
Tempo, vais para trás ou para
diante?
O passado carrega a minha vida
Para trás e eu de mim fiquei
distante,
Ou existir é urna contínua ida
E eu me persigo nunca me
alcançando?
A hora da despedida é a da
partida,
A um tempo aproximando e
distanciando...
Sem saber de onde vens e aonde
irás,
Andando andando andando andando
andando-
Tempo, vais para diante ou para
trás?
** ** **
DESCOBRIMENTO DA POESIA
Quero escrever sem pensar.
Que um verso consolador
Venha vindo impressentido
Como o princípio do amor.
Quero escrever sem saber,
Sem saber o que dizer,
Quero escrever urna coisa
Que não se possa entender.
Mas que tenha um ar de graça,
De pureza, de inocência,
De doçura na desgraça,
De descanso na inconsciência.
Sinto que a arte já me cansa
E só me resta a esperança
De me esquecer do que sou
E tornar a ser criança.
Eliana (Shir) Ellinger
Fontes de Pesquisa:
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