Antônio Gonçalves da Silva
Patativa do Assaré
(1909 - 2002)
Patativa do Assaré, Antônio
Gonçalves da Silva, nasceu no município de Assaré, interior do Ceará. a 623 km
da capital Fortaleza. Filho dos agricultores Padro Gonçalves da Silva e Maria
Pereira da Silva, ainda pequeno ficou cego do olho direito. Órfão de pai aos
oito anos de idade, começou a trabalhar no cultivo da
terra.
Com pouco acesso à educação,
frequentou durante quatro meses sua primeira e única escola onde aprendeu a ler
e escrever e se tornou apaixonado pela poesia.
Logo começou a fazer repentes e se
apresentar em festas locais. Antônio Gonçalves da Silva recebeu apelido de
Patativa, pois sua poesia era comparada à beleza do canto dessa ave. Aos vinte
anos começou a viajar por cidades nordestinas e diversas vezes se apresentou na
Rádio Araripe.
Com uma linguagem simples, porém
poética, retratava em suas poesias o árido universo da caatinga nordestina e de
seu povo sofrido e valente do sertão. Viajou para o Pará, onde ficou cinco
meses, fazendo grande sucesso como cantador. De volta ao Ceará continuou a mesma
vida de pobre agricultor e cantador. Sua projeção em todo o Brasil, iniciou-se
em 1964 com a gravação de "Triste Partida", toada de sua autoria, cantada por
Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Teve inúmeros folhetos de cordel e
poemas publicados em revistas e jornais, além de seus livros "Inspiração
Nordestina" (1956), "Cantos da Patativa" (1966). Figueiredo Filho publicou seus
poemas comentados em "Patativa de Assaré "(1970).
Ao completar 65 anos foi
homenageado com o LP "Patativa de Assaré - 85 anos de Poesia", com a
participação das duplas repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio, e
Otacílio
Batista e Oliveira de Panelas.
Tido como fenômeno da poesia
popular nordestina, com sua versificação límpida sobre temas como o homem
sertanejo e a luta pela vida, seus livros foram traduzidos em diversos idiomas e
tornaram-se temas de estudo na Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular
Universal, sob a regência do professor Raymond Cantel.
Antônio Gonçalves da Silva, sem
audição e cego desde o final dos anos 90, morre em consequência de falência
múltipla dos órgãos, no dia 8 de julho de 2002, em sua casa, em Assaré, Ceará,
aos 93 anos de idade.
AUTOBIOGRAFIA
Mas porém como a
leitura
É a maió
diciprina
E veve na treva
iscura
Quem seu nome não
assina,
Mesmo na lida
pesada,
Para uma escola
atrasada
Tinha uma parte do
dia,
Onde estudei argum
mês
Com um veio
camponês
Que quase nada
sabia.
Meu professô era
fogo,
Na base do
portuguêis,
Catálogo, era
catalôgo,
Mas grande favô me
faz.
O mesmo que nunca
esqueci,
Foi com ele que
aprendi
Minhas premêra
lição,
Muito a ele tô
devendo,
Sai escrevendo e
lendo
Mesmo sem
pontuação.
Depois só fiz meus
estudo,
Mas não nos livro de
escola
Eu gostava de lê
tudo,
Revista, livro e
jorná.
Com mais uns tempo prá
frente,
Mesmo
vagarosamente,
Não errava nenhum
nome.
Lia no claro da
luz
As pregação de
Jesus
E as justiça dos
home.
** **
**
HERANÇA
Querida esposa que ouvindo
está,
Roubou-lhe o tempo a jovial
beleza,
Mas tem o dote da maior
nobreza
Sua bondade não se
acabará.
Morrerei breve, porém Deus
lhe dá
Força e coragem com a
natureza
De no semblante não mostrar
tristeza
Quando sozinha viver por
cá.
Não tenho terra, gado, nem
dinheiro,
Só tenho o galo dono do
terreiro
Que a madrugada nunca ele
perdeu.
Conserva esposa, minha
pobre herança,
Seja bem calma, paciente e
mansa,
Você não chore, que esse
galo é seu.
** **
**
AMANHÃ
Amanhã, ilusão doce e
fagueira,
Linda rosa molhada pelo
orvalho:
Amanhã, findarei o meu
trabalho,
Amanhã, muito cedo, irei à
feira.
Desta forma, na vida
passageira,
Como aquele que vive do
baralho,
Um espera a melhora no agasalho
Um espera a melhora no agasalho
E o outro, a cura feliz de
uma cegueira.
Com o belo amanhã que ilude
a gente,
Cada qual anda alegre e
sorridente,
Como quem vai atrás de um
talismã.
Com o peito repleto de
esperança,
Porém, nunca nós temos a
lembrança
De que a morte também chega
amanhã.
** **
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MINHA
SERRA
Quando o sol nascente se
levanta
Espalhando os seus raios
sobre a terra,
Entre a mata gentil da
minha serra
Em cada galho um passarinho
canta.
Que bela festa! Que alegria
tanta!
E que poesia o verde campo
encerra!
O novilho gaiteia, a cabra
berra
Tudo saudando a natureza
santa.
Ante o
concerto desta orquestra infinda
Que o Deus dos pobres ao serrano brinda,
Acompanhada da suave aragem.
Que o Deus dos pobres ao serrano brinda,
Acompanhada da suave aragem.
Beijando a
choça de feliz caipira,
Sinto brotar
da minha rude lira
O tosco verso
do cantor selvagem.
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Eliana (Shir)
Ellinger
Fontes de
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