Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









quarta-feira, 19 de setembro de 2012

BRUNO TOLENTINO

BRUNO TOLENTINO
(1940 - 2007)
 
 
  Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino, nasceu em 1940, São Paulo, numa tradicional família carioca. Conviveu desde criança com intelectuais e escritores próximos à família, entre eles  Cecília Meireles (a quem o poeta sempre se referiu carinhosamente como Tia Cecília), Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.  Primo do crítico literário brasileiro Antonio Candido e da crítica teatral Bárbara Heliodora, seu trisavô, Antônio Nicolau Tolentino, foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal.
Foi instruído em inglês e francês ao mesmo tempo de sua alfabetização no português.
Publicou em 1963 seu primeiro livro, Anulação e Outros Reparos. Com o advento do golpe militar de 1964, mudou-se para a Europa a convite do poeta Giuseppe Ungaretti, onde viveu trinta anos, tendo residido na Inglaterra, Bélgica, Itália e França. Lecionou nas universidades de Oxford, Essex e Bristol e trabalhou como tradutor-intérprete junto à Comunidade Econômica Européia. Publicou em 1971, em língua francesa, o livro Le Vrai le Vain e, em 1979; em língua inglesa, About the Hunt, ambos bem recebidos pela crítica literária européia.
Em 1987, sob a acusação de porte de drogas, foi condenado a 11 anos de prisão. Cumpriu apenas 22 meses da pena, em Dartmoor, no Reino Unido.  "Adorei a experiência e procurei tirar o máximo de proveito", foi o que Bruno declarou sobre os dias de encarceramento, numa entrevista em agosto de 2006. Aos companheiros de prisão, organizou aulas de alfabetização e de literatura, estas últimas nomeadas de "Seminars of Drama and Literature", que, conforme posteriormente relatado por Bruno, "em cujas sessões avançadas chegaram a comparecer psicanalistas de renome, ao lado de personalidades do mundo das letras tais como Harold Carpenter, o estudioso e biógrafo de Ezra Pound e Auden, o dramaturgo Harold Pinter, ou Lady Antonia Fraser".
Tolentino retornou ao Brasil em 1993, publicando o livro As horas de Katharina, escrito durante o período de 22 anos (1971-1993), ganhando com ele o Prêmio Jabuti  de melhor livro de poesia de 1994. Em 1995 publicou Os Sapos de Ontem, uma coletânea de textos, artigos e poemas originados de uma polêmica intelectual com os irmãos Haroldo de Campos  e  Augusto de Campos, que nesse livro foram os principais alvos de sua "língua ferina entortada pelo vício da ironia", frase que Bruno usou durante uma entrevista em que lhe foi pedido "um perfil abrangente de si mesmo". Ainda em 1995 publicou Os Deuses de Hoje, e, em 1996, A Balada do Cárcere, livro nascido da experiência de sua prisão pouco menos de dez anos antes. Ainda nesse ano, foi publicada uma polêmica entrevista com Bruno para a revista Veja, onde o poeta critica, entre outras coisas, a então atual situação intelectual do Brasil, o Concretismo, a concepção e aceitação da letra de música enquanto poesia e a elevação de músicos populares à posição do intelectual. Essa postura crítica, que tem como principais arenas publicadas a entrevista à Veja e o livro Os Sapos de Ontem, acompanhou Bruno ao longo dos anos de atividade intelectual no período que foi do seu retorno ao Brasil até sua morte (1993-2007).
Bruno publicou derradeiramente em 2002 e 2006, respectivamente, os livros que considerou como a culminação de sua obra poética: O Mundo Como Idéia, escrito durante quarenta anos (1959-1999), e A Imitação do Amanhecer, escrito durante 25 anos (1979-2004). Ambos lhe renderam o Prêmio Jabuti, já conquistado pelo autor em 1993 com As Horas de Katharina, tornando-o assim um dos únicos escritores a ganhar três edições do prêmio, considerado o mais importante da literatura brasileira. Bruno também recebeu, por O Mundo Como Idéia, o Prêmio Senador José Hermínio de Morais, prêmio nunca antes dado a um escritor, em sessão da Academia Brasileira de Letras, com saudação proferida pelo acadêmico, filósofo, poeta e teórico do Direito, Miguel Real, seu amigo.
Tolentino, que tinha AIDS e já havia superado um câncer, esteve internado durante um mês na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Emílio Ribas, em São paulo, onde veio a falecer, aos 66 anos de idade, vitimado por uma falência múltipla de órgãos, em 27 de junho de 2007.

SEGUNDO MOVIMENTO

Mas vem o amor, o amor que faz tão doce
o travo em que circula à flor do instante,
e entre resíduos vai como se fosse
suficiente, plácido e constante...

Mas se é amor é muito mais cortante
e em lâmina tão leve disfarsou-se
que por melhor alar seu golpe pôs
cintilações de ganho em cada instante.

E a alma se insurge, cobra o amor que abrande
seu ginete malsão tonto de posse,
esse peso de corpo que a alma torce.

E não doma, esse breve, bastante
soluço da vontade no imperfeito,
mas a alma cede, a alma sucumbe o peito...

Fontes de pesquisa:

Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)

ANA CRISTINA CRUZ CÉSAR


ANA CRISTINA CRUZ CÉSAR
(1952 - 1983)
 

Ana Cristina Cruz César, poeta, ensaísta, tradutora, nasceu no Rio de Janeiro,  filha de Maria Luiza César e do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz César, um dos responsáveis, junto com o editor Ênio Silveira (1925 - 1996), pela fundação da editora ecumênica Paz e Terra.
Aos 7 anos, Ana Cristina tem seus primeiros poemas publicados no
jornal Tribuna da Imprensa. Entre 1969 e 1970, interrompe o curso clássico no Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia, para estudar inglês no Richmond School for Girls, em Londres, pelo programa de intercâmbio da juventude cristã. Ingressa, em 1971, na Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Desde a vida universitária, participa ativamente da cena cultural carioca e do movimento da poesia marginal, convivendo com poetas como Cacaso (1944 - 1987) e intelectuais como Heloísa Buarque de Holanda (1939). Ainda em 1971, inicia a atuação como professora,  em escolas de 2º grau e de idiomas. Após a conclusão da graduação, em 1975, colabora para publicações como Opinião, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, com destaque para Beijo, importante periódico de cultura, com sete números impressos, cujo processo acompanha desde sua criação. 
Em 1979 lança, de forma independente, o primeiro livro de poesia, Cenas
de Abril
. Seguem-se Correspondência Completa, uma carta ficcional, e Luvas de Pelica, publicado em 1980. Dessa mesma época datam as primeiras traduções, atividade que se torna objeto de estudo na pós-graduação: em 1981, torna-se mestre em teoria e prática da tradução literária pela Universidade de Essex, Inglaterra. De volta ao Brasil,
é contratada como analista de textos pela Rede Globo de Televisão e lança, em 1982,  A Teus Pés - reunião de títulos publicados até então e ainda o inédito que nomeia o volume.
Aos 31 anos, em 1983, comete suicídio, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício na rua Tonelero, em Copacabana.  Após sua morte, o poeta e amigo  Armando Freitas Filho (1940) organiza sua obra e promove
o lançamento dos livros Inéditos e Dispersos, em 1985,  Escritos da Inglaterra, 1988, e Escritos no Rio, 1993.
A trajetória da autora, que pode ser acompanhada em Inéditos & Dispersos - reunião de poemas escritos desde os 9 anos de idade - revela busca pessoal da expressão poética: os primeiros versos são em geral líricos, metrificados e rimados.
Já em A Teus Pés (1982) são longos, apresentando tom de conversa, e frequentemente questionam a sociedade conservadora e o lugar nela destinado à mulher. É o que se lê em "Sete chaves", "[...] Não
sou dama nem mulher/ moderna".
 
TODA MULHER
 
A coisa que mais o preocupava
naquele momento
era estudo de mulher
toda mulher
dos quinze aos dezoito.
Não sou mais mulher.
Ela quer o sujeito.
Coleciona histórias de amor.
 
** ** **
 
SONETO
Pergunto aqui se sou louca 
Quem quer saberá dizer 
Pergunto mais, se sou sã 
E ainda mais, se sou eu 

Que uso o viés pra amar 
E finjo fingir que finjo 
Adorar o fingimento 
Fingindo que sou fingida 

Pergunto aqui meus senhores 
quem é a loura donzela 
que se chama Ana Cristina 

E que se diz ser alguém 
É um fenômeno mor 
Ou é um lapso sutil?
 
Fontes de Pesquisa:


Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)