Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
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Clube de Poetas









domingo, 3 de março de 2013

JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS


JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS
( 1893 - 1970 )
 
 
 
 
Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe, filho do tenente de cavalaria Antônio Lobo de Almada Negreiros, administrador do Conselho de S. Tomé e de Elvira Sobral.
Foi educado no Colégio de Campolide -  dos Jesuitas -  e, mais tarde, devido a extinção do Colégio (1910), no Liceu de Coimbra. Em 1911 ingressou na Escola Internacional de Lisboa, com um ensino mais moderno, onde lhe proporcionaram um espaço para expandir sua arte. Publica o primeiro desenho " A Sátira ".
Terminados os estudos no Liceu Campolide, no Liceu de Coimbra e na Escola Normal (1912), entregou-se a uma intensa atividade artística e literária que visava colocar Portugal ao nível de outras nações européias. Pertenceu ao grupo Orpheu (1915), estudou pintura em Paris (1919-1920), viveu na Espanha de 1927 a 1932, em trabalhos de artes plásticas.
 
Engajou-se em todos os principais movimentos de vanguarda e procurou desde cedo divulgá-las nos meios culturais portuguêses. Para tanto, desdobrou-se em poeta, pintor, desenhista, romancista, teatrólogo, conferencista, crítico de arte, num afã de totalidade e divertificação que não oculta o sopro genial da visão do mundo e dos homens.
De sua atividade como escritor, sobressai a colaboração nas revistas Orpheu (1915), Portugal Futurista (1917),  Athena, Contemporânea e Sudoeste, bem como em seu romance "Nome de Guerra", considerado um dos romances fundamentais do século XX, e a obra poética "A Invenção do Dia Claro". Escreveu também artigos diversos em jornais e revistas, enquanto ensaísta e crítico. É, porém, sua atuação na pintura o que mais se destaca em sua produção artística, embora tenha igualmente executado vitrais, mosaicos e tapeçarias, entre outras artes plásticas. Expôs pela primeira vez em 1912 e sua obra evoluiu na segunda e na terceira décadas do século, contribuindo para a formação e para o desenvolvimento do modernismo em Portugal. Realçamos seus murais na gare marítima de Lisboa, os trabalhos para a Igreja Nossa Senhora de Fátima e o célebre retrato de Fernando Pessoa.
Como escritor, publicou peças de teatro - "Antes de Começar", 1919; "Pierrot e Arlequim", 1924, que pintou o estudo cênico.

Depois, "Deseja-se Mulher", 1928 - os poemas "Menino de Olhos Gigantes", 1921; "A Cena de Ódio" (escrito em 1915 durante a Revolução de Maio, contra a ditadura de Pimenta Castro que consiste numa descrição violenta do Portugal da época, em que exprime uma dialética de amor e ódio que seria a tônica dominante das relações do artista com a pátria).

"As Quatro Manhãs" (1935) e "Começar" (1969) e uma série de textos de crítica e polêmica, dispersos pelas publicações que colaborava. Dentre estes, destacam-se "Manifesto Anti Dantas" (1915); "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguêsas" (1917) e "A Invenção do Dia Claro" (1921), conferência sob a forma de poema.
Sua obra representa uma síntese, única na sua geração, das tendências modernistas e futuristas de então, não apenas por, como artista, ser multifacetado, mas também pela sua capacidade de fusão e conjugação, nas letras e na pintura, das vertentes plástica, gráfica e poética.
Almada Negreiros faleceu em Lisboa, dia 15 de junho de 1970.

Em 1970 e 1988, foram publicadas duas edições de "Obras Completas de Almada Negreiros", comemorando a última o centenário do autor.



CANÇÃO DA SAUDADE
 
Se eu fosse cego amava toda a gente.
Não é por ti que dormes em meus braços que sinto amor.
Eu amo a minha irmã gêmea que nasceu sem vida,
e amo-a a fantasia-la viva na minha idade.
 
Tu, meu amor, que nome é o teu?
Dize onde vives, dize onde moras,
dize se vives ou se já nasceste.
 
Eu amo aquela mão branca dependurada
da murada da galé, que partia em busca
de outras galés perdidas em mares longíssimos.
 
Eu amo um sorriso que julgo ter visto
em luz do fim-do-dia por entre as gentes apressadas.
 
Eu amo aquelas mulheres formosas
que indiferentes passaram a meu lado
e nunca mais os meus olhos pararam nelas.
 
Eu amo os cemitérios - as lágens são espessas vidraças
transparentes, e eu vejo deitadas em leitos floridos virgens
nuas, mulheres belas rindo-se para mim.
 
Eu amo a noite, porque na luz fugida as silhuetas indecisas
das mulheres são como as silhuetas indecisas das mulheres
que vivem em meus sonhos. Eu amo a lua do lado que eu nunca vi.
 
Se eu fosse cego, amava toda a gente.
 
(in 'Frisos - Revista Orpheu nº 1)
 

Fontes de pesquisa:
 

Trabalho de Pesquisa Eliana Ellinger
 

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