JOSÉ DE ALMADA
NEGREIROS
( 1893 - 1970 )
Almada Negreiros nasceu
em S. Tomé e Príncipe, filho do tenente de cavalaria Antônio Lobo
de Almada Negreiros, administrador do Conselho de S. Tomé e de Elvira Sobral.
Foi educado no Colégio de
Campolide - dos Jesuitas - e, mais tarde, devido a extinção do Colégio (1910),
no Liceu de Coimbra. Em 1911 ingressou na Escola Internacional de Lisboa, com um
ensino mais moderno, onde lhe proporcionaram um espaço para expandir sua arte.
Publica o primeiro desenho " A Sátira ".
Terminados os estudos no Liceu
Campolide, no Liceu de Coimbra e na Escola Normal (1912), entregou-se a uma
intensa atividade artística e literária que visava colocar Portugal ao nível de
outras nações européias. Pertenceu ao grupo Orpheu (1915), estudou pintura em
Paris (1919-1920), viveu na Espanha de 1927 a 1932, em trabalhos de artes
plásticas.
Engajou-se em todos os principais
movimentos de vanguarda e procurou desde cedo divulgá-las nos meios culturais
portuguêses. Para tanto, desdobrou-se em poeta, pintor, desenhista, romancista,
teatrólogo, conferencista, crítico de arte, num afã de totalidade e
divertificação que não oculta o sopro genial da visão do mundo e dos
homens.
De sua atividade como escritor,
sobressai a colaboração nas revistas Orpheu (1915), Portugal Futurista (1917),
Athena, Contemporânea e Sudoeste, bem como em seu romance "Nome de Guerra",
considerado um dos romances fundamentais do século XX, e a obra poética "A
Invenção do Dia Claro". Escreveu também artigos diversos em jornais e revistas,
enquanto ensaísta e crítico. É, porém, sua atuação na pintura o que mais se
destaca em sua produção artística, embora tenha igualmente executado vitrais,
mosaicos e tapeçarias, entre outras artes plásticas. Expôs pela primeira vez em
1912 e sua obra evoluiu na segunda e na terceira décadas do século, contribuindo
para a formação e para o desenvolvimento do modernismo em Portugal. Realçamos
seus murais na gare marítima de Lisboa, os trabalhos para a Igreja Nossa Senhora de Fátima e o célebre retrato de Fernando
Pessoa.
Como escritor, publicou peças de teatro
- "Antes de Começar", 1919; "Pierrot e Arlequim", 1924, que pintou o estudo
cênico.
Depois, "Deseja-se Mulher", 1928 - os poemas "Menino de Olhos Gigantes", 1921;
"A Cena de Ódio" (escrito em 1915 durante a Revolução de Maio, contra a ditadura
de Pimenta Castro que consiste numa descrição violenta do Portugal da época, em
que exprime uma dialética de amor e ódio que seria a tônica dominante das
relações do artista com a pátria).
"As Quatro Manhãs" (1935) e "Começar"
(1969) e uma série de textos de crítica e polêmica, dispersos pelas publicações
que colaborava. Dentre estes, destacam-se "Manifesto Anti Dantas" (1915);
"Ultimatum Futurista às Gerações Portuguêsas" (1917) e "A Invenção do Dia Claro"
(1921), conferência sob a forma de poema.
Sua obra representa uma síntese, única
na sua geração, das tendências modernistas e futuristas de então, não apenas
por, como artista, ser multifacetado, mas também pela sua capacidade de fusão e
conjugação, nas letras e na pintura, das vertentes plástica, gráfica e
poética.
Almada Negreiros faleceu em Lisboa,
dia 15 de junho de 1970.
Em 1970 e 1988, foram publicadas duas edições de "Obras
Completas de Almada Negreiros", comemorando a última o centenário do
autor.
CANÇÃO DA
SAUDADE
Se eu fosse cego amava toda a
gente.
Não é por ti que dormes em meus
braços que sinto amor.
Eu amo a minha irmã gêmea que nasceu
sem vida,
e amo-a a fantasia-la viva na minha
idade.
Tu, meu amor, que nome é o
teu?
Dize onde vives, dize onde
moras,
dize se vives ou se já
nasceste.
Eu amo aquela mão branca
dependurada
da murada da galé, que partia
em busca
de outras galés perdidas em mares
longíssimos.
Eu amo um sorriso que julgo ter
visto
em luz do fim-do-dia por entre as
gentes apressadas.
Eu amo aquelas mulheres
formosas
que indiferentes passaram a meu
lado
e nunca mais os meus olhos pararam
nelas.
Eu amo os cemitérios - as lágens são
espessas vidraças
transparentes, e eu vejo deitadas em
leitos floridos virgens
nuas, mulheres belas rindo-se para
mim.
Eu amo a noite, porque na luz fugida
as silhuetas indecisas
das mulheres são como as silhuetas
indecisas das mulheres
que vivem em meus sonhos. Eu amo a
lua do lado que eu nunca vi.
Se eu fosse cego, amava toda a
gente.
(in 'Frisos - Revista Orpheu nº
1)
Fontes de pesquisa:
Trabalho de Pesquisa Eliana Ellinger
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