Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









domingo, 3 de março de 2013

ROBERTO PIVA


ROBERTO PIVA
(1937 - 2010)


Roberto Piva é um dos maiores nomes da poesia contemporânea no Brasil.
Sua história pessoal começa e gira em torno da cidade de São Paulo, onde nasceu, cresceu e formou-se entre a capital e as antigas fazendas do pai, no interior do Estado de São Paulo. Seus primeiros poemas foram publicados em 1961, quando tinha 23 anos. Nessa mesma época, integrou a famosa Antologia dos Novíssimos, de Massao Ohno, na qual se lançaram vários poetas brasileiros iniciantes, que depois desenvolveram uma obra poética de importância. Piva formou-se em sociologia. Sobreviveu em grande parte como professor de estudos sociais e história. Em suas aulas aos adolescentes do segundo grau, costumava trabalhar as matérias a partir de poemas que os fazia ler e interpretar. Foi um professor de muito sucesso, com rara vocação como pedagogo. Nos anos de 1970, tornou-se produtor de shows de rock.

Em 1976 Piva foi incluido na antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque de Holanda. Em 2005 a Editora Globo deu início à publicação das obras reunidas do poeta.
A poesia de Piva também é conhecida por uma forte presença de homoerotismo. Frequentemente é classificado como um "poeta maldito" e, de fato, sua poesia evoca muitos poetas que são tradicionalmente considerados malditos, citando-os nominalmete grande parte das vezes. É o caso de Álvares de Azevedo, Antonin Artaud, Arthur Rimbaub, Marquês de Sade, Pier Paolo Pasolini, entre outros. Jorge de Lima também está presente na dicção de Piva, que dedicou a ele o poema "Jorge de Lima, Panfletário do Caos", do livro Paranóia.

Há ainda a influência de Murilo Mendes sobre ele em seus versos "Murilo Mendes tuas poesias são os sapatos de abóboras que eu calço nesses dias de verão". O ponto de ligação que há entre os dois é o tom surrealista que ambos assumem em seus poemas.
Os livros de Roberto Piva seriam reunidos em três volumes, publicados pela Editora Globo e editados por Alcir Pécora: Um estrangeiro na legião (2005), Mala na mão & asas pretas (2006) e estranhos sinais de Saturno (2008)

Assim, já no contexto das escolas literárias, as obras de Piva evocam experiências do Romantismo, Simbolismo, Surealismo e da Geração Beat. Figura ao lado de Claudio Willer e Sérgio Lima como um dos únicos poetas brasileiros resenhados pela revista La Bréche. Poetas mais canônicos, como Fernando Pessoa, Garcia Lorca e Walt Whitman também influenciaram o poeta. Em seus livros mais recentes, é grande a presença do xamanismo.
Seu último livro - Ciclones - tem todo vigor da adolescência. Nos seus momentos mais fracos, corresponde a uma idealização desejo sexual puro e simples: "O garoto/e seu cú em flor/adorno de um deus/deslumbrando o caos"

Roberto Piva faleceu em São Paulo, em 2010, aos 72 anos de idade, com falência múltipla dos órgãos decorrente de insuficiência renal. Um câncer na próstata o havia levado ao Hospital das Clínicas, onde estava internado desde maio e o câncer atingiu os ossos.


POEMA VERTIGEM

Eu sou a viagem de ácido 

nos barcos da noite 
Eu sou o garoto que se masturba 
na montanha 
Eu sou o tecno pagão 
Eu sou o Reich, Ferenczi & Jung 
Eu sou o Eterno Retorno 
Eu sou o espaço cibernético 
Eu sou a floresta virgem 
das garotas convulsivas 
Eu sou o disco-voador tatuado 
Eu sou o garoto e a garota 
Casa Grande & Senzala 
Eu sou a orgia com o 
garoto loiro e sua namorada 
de vagina colorida 
(ele vestia a calcinha dela 
& dançava feito Shiva 
no meu corpo) 
Eu sou o nômade de Orgônio 
Eu sou a Ilha de Veludo 
Eu sou a Invenção de Orfeu 
Eu sou os olhos pescadores 
Eu sou o Tambor do Xamã 
(& o Xamã coberto 
de peles e andrógino) 
Eu sou o beijo de Urânio 
de Al Capone 
Eu sou uma metralhadora em 
estado de graça 
Eu sou a pomba-gira do Absoluto.


CEGOS

Vocês estão cegos graças ao temor,
olhares mortos sugando-me o sangue,
não serei vossa sobremesa nessa curta
temporada no inferno.
Eu quero que seus rostos cantem,
eu quero que seus corações explodam
em línguas de fogo,
meu silêncio é um galope de búfalos,
meu amor cometa nômade
de riso abominável.
Façam seus orifícios cantarem o hino
à estrela da manhã,
torres e cabanas onde foi fechado
o arco-íris.
Eu abandonei o passado, a esperança,
a memória, o vazio da década 70,
sou um navio lançado ao
alto-mar das futuras
combinações.
(Do seu livro '20 poemas com Brócoli,1981 - Massao Oho-Roswitha)




Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger

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