ROBERTO PIVA
(1937 - 2010)
Roberto Piva é um dos maiores nomes
da poesia contemporânea no Brasil.
Sua história pessoal começa e gira em torno da cidade de São Paulo, onde
nasceu, cresceu e formou-se entre a capital e as antigas fazendas do pai, no
interior do Estado de São Paulo. Seus primeiros poemas foram publicados em 1961,
quando tinha 23 anos. Nessa mesma época, integrou a famosa Antologia dos Novíssimos, de Massao
Ohno, na qual se lançaram vários poetas brasileiros iniciantes, que depois
desenvolveram uma obra poética de importância. Piva formou-se em sociologia.
Sobreviveu em grande parte como professor de estudos sociais e história. Em suas
aulas aos adolescentes do segundo grau, costumava trabalhar as matérias a partir
de poemas que os fazia ler e interpretar. Foi um professor de muito sucesso, com
rara vocação como pedagogo. Nos anos de 1970, tornou-se produtor de shows de
rock.
Em 1976 Piva foi incluido na antologia 26
Poetas Hoje, de Heloísa Buarque de Holanda. Em 2005 a Editora Globo deu início à publicação das obras reunidas do
poeta.
A poesia de Piva também é conhecida por uma
forte presença de homoerotismo. Frequentemente é classificado como um "poeta
maldito" e, de fato, sua poesia evoca muitos poetas que são tradicionalmente
considerados malditos, citando-os nominalmete grande parte das vezes. É o caso
de Álvares de Azevedo, Antonin Artaud, Arthur Rimbaub, Marquês de Sade, Pier
Paolo Pasolini, entre outros. Jorge de Lima também está presente na dicção de
Piva, que dedicou a ele o poema "Jorge de Lima, Panfletário do Caos", do livro
Paranóia.
Há ainda a influência de Murilo Mendes
sobre ele em seus versos "Murilo Mendes tuas poesias são os sapatos de abóboras
que eu calço nesses dias de verão". O ponto de ligação que há entre os dois é o
tom surrealista que ambos assumem em seus poemas.
Os livros de Roberto Piva seriam reunidos
em três volumes, publicados pela Editora Globo e editados por Alcir Pécora:
Um estrangeiro na legião (2005), Mala na mão & asas pretas (2006) e
estranhos sinais de Saturno (2008)
Assim, já no contexto das escolas
literárias, as obras de Piva evocam experiências do Romantismo, Simbolismo,
Surealismo e da Geração Beat. Figura ao lado de Claudio Willer e Sérgio Lima
como um dos únicos poetas brasileiros resenhados pela revista La Bréche. Poetas
mais canônicos, como Fernando Pessoa, Garcia Lorca e Walt Whitman também
influenciaram o poeta. Em seus livros mais recentes, é grande a presença do
xamanismo.
Seu último livro - Ciclones - tem
todo vigor da adolescência. Nos seus momentos mais fracos, corresponde a uma
idealização desejo sexual puro e simples: "O garoto/e seu cú em flor/adorno de
um deus/deslumbrando o caos"
Roberto Piva faleceu em São Paulo, em 2010,
aos 72 anos de idade, com falência múltipla dos órgãos decorrente
de insuficiência renal. Um câncer na próstata o havia levado ao Hospital das
Clínicas, onde estava internado desde maio e o câncer atingiu os
ossos.
POEMA
VERTIGEM
Eu sou a viagem de ácido
nos
barcos da noite
Eu
sou o garoto que se masturba
na
montanha
Eu
sou o tecno pagão
Eu
sou o Reich, Ferenczi & Jung
Eu
sou o Eterno Retorno
Eu
sou o espaço cibernético
Eu
sou a floresta virgem
das
garotas convulsivas
Eu
sou o disco-voador tatuado
Eu
sou o garoto e a garota
Casa
Grande & Senzala
Eu
sou a orgia com o
garoto
loiro e sua namorada
de
vagina colorida
(ele
vestia a calcinha dela
&
dançava feito Shiva
no
meu corpo)
Eu
sou o nômade de Orgônio
Eu
sou a Ilha de Veludo
Eu
sou a Invenção de Orfeu
Eu
sou os olhos pescadores
Eu
sou o Tambor do Xamã
(&
o Xamã coberto
de
peles e andrógino)
Eu
sou o beijo de Urânio
de
Al Capone
Eu
sou uma metralhadora em
estado
de graça
Eu
sou a pomba-gira do Absoluto.
CEGOS
Vocês estão cegos graças ao temor,
olhares mortos sugando-me o sangue,
não serei vossa sobremesa nessa
curta
temporada no inferno.
Eu quero que seus rostos cantem,
eu quero que seus corações explodam
em línguas de fogo,
meu silêncio é um galope de búfalos,
meu amor cometa nômade
de riso abominável.
Façam seus orifícios cantarem o hino
à estrela da manhã,
torres e cabanas onde foi fechado
o arco-íris.
Eu abandonei o passado, a esperança,
a memória, o vazio da década 70,
sou um navio lançado ao
alto-mar das futuras
combinações.
(Do seu livro '20 poemas com Brócoli,1981 - Massao
Oho-Roswitha)
Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger
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