Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









quarta-feira, 24 de julho de 2013

LUIZA NETO JORGE


Luiza Neto Jorge
(1939 - 1993)
 
Luiza Neto Jorge nasceu em Lisboa, 10 de maio de 1939, filha do advogado Ricardo Jorge Rodrigues e Adriana Neto.
Após seus pais se separarem, foi morar com o pai, no então chamado Bairro das Colónias, aos Anjos, onde frequentou a escola primária. Há referências a esse período no poema autobiográfico "Aos Quarenta Anos Meus" : ' a proximidade do Castelo de São Jorge ("de eléctrico andava a correr meio mundo// subia a colina ao castelo fantasma"), Os problemas respiratórios ( "...E sofria de asma, alma e ar reféns dentro do pulmão"), a instrução primária salazanista (Salazar três vezes, no eco da aula"), os jogos de infância no Jardim dos Anjos ("e o meu coito quando jogava a apanhar/era nesse tronco do Jardim dos Anjos"), o fim da guerra ("acabou a guerra e meu pai grita "Viva!"), os passeios até o Terreiro do Paço ("Deflagaram no rio golfinhos brinquedos//Já bate no cais das colunas uma/onda ultramarinha onde singra um barco/para cacilhas..."), as idas ao cinema Lis, na Avenida Almirante Reis ("No cinema lis luz o projector/e o FIM através do tempo retine")' . 
Luiza Neto Jorge frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mas desistiu do curso e foi viver em Paris, durante oito anos (1962/1970).
Ainda hoje é considerada a personalidade de maior destaque do grupo de poetas que se reunia em Poesia 61, no âmbito do qual publicou "Quarta Dimensão".  Sua estréia literária foi o livro "Noite Vertebrada" (1960). 


 
Segundo Joaquim Manuel Magalhães, "numa geração que não conseguiu escapar ao maneirismo gramatical, ao tédio de uma ausência de vocações temáticas múltiplas, à insistente sobrevalorização da busca prosódica, a obra de Luiza Neto Jorge representa um esforço e um conseguimento exemplares de amplidão imaginativa, de renovação prossesual e de ímpeto transformador".
Como tradutora deixou uma obra inigualável, nos domínios da poesia, da ficção e do teatro, abrangendo autores como Céline - Morte a Crédito, que valeu-lhe o prêmio de tradução do Pen-Clube - Sade, Goethe ("O Fausto"), Verlaine, Breton, Stendhal, Garcia Lorca, Ionesco, entre muitos outros.
Fez adaptações de textos para teatro e colaborou com alguns cineastas, tendo escrito diálogos para filmes de Paulo Rocha e o argumento de Os Brandos Costumes, de Alberto Seixas Santos. Também escreveu poemas avulsos em algumas publicações, como da revista Colóquio-Letras, não publicou nenhum livro nos seus útimos 16 anos de vida.
A presença de Luiza Neto Jorge está em quase todas as antologias de poesia portuguesa contemporânea - editadas em Portugal e no estrangeiro -  e tem grande parte dos poemas traduzidos para diversos idiomas. 

 



 
EU, ARTÍFICE
 
Atento agora ao traço,
corrijo o mais da matéria,
ergo a minha arte do poço
onde flutua.
Como o brilho se desprende
do metal mais bravo,
no forro de cada um
o desgaste é tanto
que eu, artífice, colho
o que de mim alimenta,
falo do que estou sendo,
da sua mão em desordem,
dos passos, das lágrimas baixas
que se vão constituindo.
 



A QUEM SE INTERESSE
 
A quem se interesse
por tecidos, peles
sistemas de ocultação.
lembro Bartolomeu
santo, mártir, manequim,
o que há séculos passeia
sobre os ombros
ou dependurada no ombro
feita capa
a sua pele escorrachada.
Adereços:
os pés e as mãos,
a murcha máscara
da cara.
 
** ** **
 

 
Fontes de Pesquisa:

Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)

 

MARIA ÂNGELA ALVIM


MARIA ÂNGELA ALVIM
(1926 - 1959)
Maria Ângela da Costa Cruz Alvim, nasceu em 1º de janeiro de 1926, na fazenda de Pouso Alegre, município de Volta Grande, Zona da Mata, Minas Gerais, filha de Fausto Figueira Soares Alvim e de Mercedes Costa Cruz Alvim.
Segundo a família, desde cedo mostra-se interessada por artes (tocava violão, fazia gravuras, emboçava os primeiros versos) e pelo social, atividades que seriam aprofundadas em sua juventude, na curta carreira como Assistente Social e na produção literária intensa, pois veio a falecer aos 33 anos. 
Seu primeiro trabalho literário, "Superfície", foi publicado ainda em vida, aos 24 anos de idade, Em Belo Horizonte, pela editora João Calazans, em 1951.
Maria Ângela Alvim encaminhou a publicação de seu segundo livro, "Barca do Tempo", em edição artesanal. O trabalho da escrita e encadernação foi, segundo relatos da família, realizado por freiras beneditinas de Belo Horizonte, a pedido da própria poeta. Segundo seu irmão Francisco Alvim, ela tinha muito cuidado e zelo com este material, que passava de maõ em mão entre familiares e amigos, os quais o elogiavam pela qualidade visual e literária, deixando a poeta orgulhosa.
Postumamente, foram publicadas outras três edições de Poemas, aqui no Brasil, todas com o mesmo conteúdo e seqüenciação de textos (Superfície, Barca do tempo, Outros Poemas, Poemas de Agosto e Carta a um Cortador de Linho). O que difere entre uma e outra é que, ao contrário das edições Fontana (1980) e Unicamp (1993), a edição do Departamento de Imprensa Nacional (1962) não tem fac-símile de cartas da poeta enviadas à família quando de sua primeira viagem a Europa, além de algumas fotos de Maria Ângela Alvim (na infância e juventude, local de nascimento e óbito, entre outras), além disso, a primeira edição de Superfície traz duas gravuras ilustrando dois poemas do livro.
As edições publicadas no exterior aconteceram de modo muito particular. A edição francesa, Poèmes d'août -  anthologie poétique, primeira publicação, deu-se a partir de Monique Attle, sua amiga de adolescência quando morava no Rio de Janeiro. De relação fraternal constituida entre as duas e com a família Alvim, nasceu a preocupação de Attle em apresentar, 40 anos depois, na França, os poemas de Maria Ângela Alvim para os Max de Carvalho, de ascendência brasileira, mostra profundo interesse pela produção de Ângela Alvim, culminando na publicação francesa pela Éditions Arfuyen.
Atraído e envolvido pela poesia de Maria Ângela Alvim, Herberto Hélder escreve para família da poeta – especificamente para Maria Lúcia Alvim. Na carta, o poeta português faz alguns comentários sobre a qualidade textual da obra de Maria Ângela Alvim e a importância que dá a ela, conforme pode ser observado no fragmento abaixo extraído da carta: A poesia de sua irmã foi para mim uma revelação, e gostaria muito que o maior número possível de pessoas partilhasse do ganho espiritual que obtive com a leitura dela.
Dentre os teóricos que fizeram menção à produção de Maria Ângela Alvim, temos na filóloga e professora de literatura brasileira na Itália, Luciana  Stegagno-Picchio, o principal nome. Mais recentemente, André Seffrin, crítico e ensaísta, organizou e prefaciou a obra Roteiro da poesia brasileira – anos 50, pela Editora Global e inseriu três poemas de Maria Ângela Alvim, sendo: Cassandra (Poemas), De tudo me afastei, por não querença (Ibidem) e Inteira me deixo aqui, (Ibidem). A obra foi lançada no final de 2007. 

A vida e obra de Maria Ângela Alvim, se entrelaçam e a voz que ecoa nos versos se faz ouvir por gemidos. Não há gritos de dor, mas um 
sussurrar melancólico movido pela incompatibilidade com o mundo: “Não 
reconheço meu mundo”, afirma o verso conclusivo do poema.

SONETO AO AMIGO
Procure ao largo de alma o lenitivo
para este mal da vida, sem promessa.
O corpo vive alheio a se ter vivo,
quando fome maior nos arremeça.
Temos todos, enfim, um amor cativo
que tudo pode e inflama e tudo cessa
quando liberto em si vê seu motivo
e este amor dê tudo e nada peça.
Cante em sua voz o rito e os dissabores
do tempo e acontecer mas abstraindo
aspecto transitório e fáceis cores.
Só o amor, enquanto é, nos anistia:
se, ele, seres, coisas, verso vindo,
são refúgios do medo sem poesia.



SEMPRE DISTANTE
Sempre distante amor e perto anseio,
e triste descambar do adeus e a ida,
em promessa que apenas prometida
tanto levou do ser que o fez alheio.
De outra morte, morrer opõe receio?
Morre um morto após si, já em seguida
à perda ao largp de alma tão perdida?
Mortos são os que morrer vida em meio.
São vivos de amor, que amor esquece,
e, súbito, na morte amadurece
antes de tudo mais que vai morrendo.
Feridos numa dor que está vivendo
no arrastar em gemido e em passo tardo,
ter sido, mais que ser, terrível fardo.


Fontes de pesquisa:

Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)


quarta-feira, 3 de julho de 2013

PEDRO CALAZANS


PEDRO CALAZANS
( 1837 - 1874 )


Pedro Luziense de Bittencourt Calazans foi um poeta, crítico e jornalista da segunda geração romântica, conhecida como Ultra-Romantismo ou Mal do Século.
Filho do tenente-coronel João José de Bittencout Calazans, um dos precursores da agronomia do Sergipe, e de Luiza Carolina Amélia Calazans, nasceu o poeta no famoso engenho Castelo, propriedade da família de seu pai.
Iniciou seus estudos no Liceu de São Cristóvão, completando-os em Recife (PE).
Aos 16 anos publica "Adeus!", seu primeiro livro de poesias e começa a contribuir para alguns periódicos da região.
Segundo Sílvio Romero, enorme foi o prestigio desfrutado por Colazans nas rodas literárias de Pernambuco. "Páginas Soltas" é publicado quando, em 1855, ingressa na Faculdade de Direito do Recife, na qual bachalerou-se a 16 de dezembro de 1859. De volta à terra natal, então com 22 anos, ocupa a promotoria da comarca de Estância (SE) e casa-se com rica herdeira, mas logo se separa.
Calazans é eleito deputado geral para a legislatura de 1861-1864 quando, ao ser absorvido pelas lutas partidárias, deixa o convívio das musas para dedicar-se à advocacia e à imprensa na capital do Império, onde se fez conhecido como atuante jornalista. No mesmo ano parte para a Europa, onde percorre vários países e retoma a publicação de seus livros: "Ofenísea", em Bruxelas, "Uma Cena de Nossos Dias" (drama em 4 atos) e "Wiesbade", sua obra mais conhecida, ambas em Leipzig, Alemanha.
De volta ao Brasil, em 1867, abandona a política e é nomeado juiz municipal de Caçapava (SP), onde publica mais quatro livros escritos durante sua excursão pelo velho continente. "A Campa e a Rosa", tradução de Victor Hugo, "A Morte de uma Virgem", "A Rosa e o Sol" e "Qual Delas?" . Segue a magistratura e é eleito deputado provincial no Rio Grande do Sul, mas consegue remoção para a comarca de Jeremoabo (BA) no ano seguinte, quando começa a sentir-se definhando em consequência do mal de que só muito mais tarde percebe-se e que iria vitimá-lo.
Em busca de tratamento para a tuberculose, procura o clima de Ilhéus (BA), sem nada conseguir. Esteve, depois, nas cidades de Serro e Diamantina (MG), em busca de repouso e paz sob o clima das montanhas, também em vão. A conselho médico, parte para a Ilha da Madeira, onde não chega a aportar e falece a bordo do navio, próximo a Lisboa.



À UM MENINO

 
Na maciez do alvo braço,
De tua mãe no regaço
Dormes, infante, a sonhar;
Teu sonho é plácido e liso,
Que um angélico sorriso
Te vem nos lábios pairar.
 
Dormiste aos beijos maternos,
Entre carinhos tão ternos
Como é doce o teu dormir!
Quando acordares sorrindo,
Verás o semblante lindo
De tua mãe a sorrir.
 
Dorme em sossego, menino,
Pois no livro do destino
Tens um destino feliz,
Dorme em completo abandono,
Dourado seja teu sono
Dos sonhos pelo matiz.
 
 

 
 
ESCUTA

 
Se para amar-te for mister martírios,
Com que delírios saberei sofrer!
Se de altas glórias for mister a palma,
Talvez minha alma possa além colher.
 
Quebrar cadeias, conquistar um nome,
Que não consome o perpassar das eras;
Arcar com a fúria de iracundos nortes,
Sofrer mil mortes, sem morrer deveras.
 
Nas próprias carnes apertar cilícios,
Nos sacrifícios ter sereno o rosto,
Pisar descalço sobre espinhos duros,
Com pés seguros, com sinais de gosto.
 
Longe da pátria, no país mais feio,
De tédio em meio, para amar-te, irei
Viver embora sob a zona ardente,
E alí contente por te amar serei!...
 
E a ser amado, se é mister o incenso,
Que sobe denso dos salões aos tetos,
Serei altivo, mas não vou de rastos
Com lábios castos mendigar afetos!
 
E se me odeias, por não ir-me às salas
Dizer-te as falas de mendaz paixão,
E, aos olhos de outros, profanando extremos,
Dizer-te: amemos, e apertar-te a mão.
 
Me odeia, e muito, que eu não sou da farsa,
Que o mal disfarça, que desfruta e ri!
Me odeia, e sempre, que eu não desço ao nível
Do pó terrível, que se arrasta aí!
 
Dá-me o teu ódio, pois não quero - escuta -
Beber cicuta, procurando mel.
Dá-me o teu ódio, mas num grau subido,
Embora ungido de amargoso fel!
 
Dá-me o teu ódio por fatal sentença,
A indiferença me será pior.
Que um sentimento por mim sintas na alma,
Dá-me  essa palma de um sofrer melhor!

 
Fontes de pesquisa:


Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)