Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









terça-feira, 13 de outubro de 2015

PATATIVA DO ASSARÉ

Antônio Gonçalves da Silva
Patativa do Assaré

(1909 - 2002)
 
Patativa do Assaré, Antônio Gonçalves da Silva, nasceu no município de Assaré, interior do Ceará. a  623 km da capital Fortaleza. Filho dos agricultores Padro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva, ainda pequeno ficou cego do olho direito. Órfão de pai aos oito anos de idade, começou a trabalhar no cultivo da terra.
Com pouco acesso à educação, frequentou durante quatro meses sua primeira e única escola onde aprendeu a ler e escrever e se tornou apaixonado pela poesia.
Logo começou a fazer repentes e se apresentar em festas locais. Antônio Gonçalves da Silva  recebeu apelido de Patativa, pois sua poesia era comparada à beleza do canto dessa ave. Aos vinte anos começou a viajar por cidades nordestinas e diversas vezes se apresentou na Rádio Araripe.



Com uma linguagem simples, porém poética, retratava em suas poesias o árido universo da caatinga nordestina e de seu povo sofrido e valente do sertão. Viajou para o Pará, onde ficou cinco meses, fazendo grande sucesso como cantador. De volta ao Ceará continuou a mesma vida de pobre agricultor e cantador.  Sua projeção em todo o Brasil, iniciou-se em 1964 com a gravação de "Triste Partida", toada de sua autoria, cantada por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Teve inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais, além de seus livros "Inspiração Nordestina" (1956), "Cantos da Patativa" (1966). Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados em "Patativa de Assaré "(1970).
Ao completar 65 anos foi homenageado com o LP "Patativa de Assaré - 85 anos de Poesia", com a participação das duplas repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio, e Otacílio 
Batista e Oliveira de Panelas. 



Tido como fenômeno da poesia popular nordestina, com sua versificação límpida sobre temas como o homem sertanejo e a luta pela vida, seus livros foram traduzidos em diversos idiomas e tornaram-se temas de estudo na Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular Universal, sob a regência do professor Raymond Cantel.
Antônio Gonçalves da Silva, sem audição e cego desde o final dos anos 90, morre em consequência de falência múltipla dos órgãos, no dia 8 de julho de 2002, em sua casa, em Assaré, Ceará, aos 93 anos de idade. 


AUTOBIOGRAFIA
 
Mas porém como a leitura
É a maió diciprina
E veve na treva iscura
Quem seu nome não assina,
Mesmo na lida pesada,
Para uma escola atrasada
Tinha uma parte do dia,
Onde estudei argum mês
Com um veio camponês
Que quase nada sabia.
 
Meu professô era fogo,
Na base do portuguêis,
Catálogo, era catalôgo,
Mas grande favô me faz.
O mesmo que nunca esqueci,
Foi com ele que aprendi
Minhas premêra lição,
Muito a ele tô devendo,
Sai escrevendo e lendo
Mesmo sem pontuação.
 
Depois só fiz meus estudo,
Mas não nos livro de escola
Eu gostava de lê tudo,
Revista, livro e jorná.
Com mais uns tempo prá frente,
Mesmo vagarosamente,
Não errava nenhum nome.
Lia no claro da luz
As pregação de Jesus
E as justiça dos home.
 
** ** **
 
HERANÇA
 
Querida esposa que ouvindo está,
Roubou-lhe o tempo a jovial beleza,
Mas tem o dote da maior nobreza
Sua bondade não se acabará.
 
Morrerei breve, porém Deus lhe dá
Força e coragem com a natureza
De no semblante não mostrar tristeza
Quando sozinha viver por cá.
 
Não tenho terra, gado, nem dinheiro,
Só tenho o galo dono do terreiro
Que a madrugada nunca ele perdeu.
 
Conserva esposa, minha pobre herança,
Seja bem calma, paciente e mansa,
Você não chore, que esse galo é seu.
 
** ** **
 
AMANHÃ
 
Amanhã, ilusão doce e fagueira,
Linda rosa molhada pelo orvalho:
Amanhã, findarei o meu trabalho,
Amanhã, muito cedo, irei à feira.
 
Desta forma, na vida passageira,
Como aquele que vive do baralho,
Um espera a melhora no agasalho
E o outro, a cura feliz de uma cegueira.
 
Com o belo amanhã que ilude a gente,
Cada qual anda alegre e sorridente,
Como quem vai atrás de um talismã.
 
Com o peito repleto de esperança,
Porém, nunca nós temos a lembrança
De que a morte também chega amanhã.
 
** ** **
 
MINHA SERRA
 
Quando o sol nascente se levanta
Espalhando os seus raios sobre a terra,
Entre a mata gentil da minha serra
Em cada galho um passarinho canta.
 
Que bela festa! Que alegria tanta!
E que poesia o verde campo encerra!
O novilho gaiteia, a cabra berra
Tudo saudando a natureza santa.
 
Ante o concerto desta orquestra infinda
Que o Deus dos pobres ao serrano brinda,
Acompanhada da suave aragem.
 
Beijando a choça de feliz caipira,
Sinto brotar da minha rude lira
O tosco verso do cantor selvagem.
 
 
** ** **
 
Eliana (Shir) Ellinger
 

Fontes de Pesquisa:
 
 

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