LEA GOLDBERG
( 1911 / 1970
)
Há cento e dois anos atrás, no
distante Koenigsberg, Prússia (hoje Kaliningrado, na Rússia), nasceu Lea
Goldberg, poetisa, novelista, escritora de literatura infantil, tradutora,
crítica, investigadora, professora catedrática, dramaturga, doutora em
filosofia e línguas semíticas.
Passou a infância na Rússia e
voltou com a família, após a revolução de 1917, para sua casa em Kovno (agora
Kaunas), na Lituânia.
Quando estourou a primeira Guerra
Mundial, Lea, com apenas três anos, fugiu com os pais para a Rússia, onde
passaram um ano em difíceis condições. Voltando para Kaunas, a patrulha da
fronteira lituana deteve-os e acusou o pai de ser espião bolchevista. Eles o
torturaram durante dez dias, e quando foi libertado ficou muito traumatizado e
com problemas psicológicos. Abandonou a família e nunca mais voltou. Lea e sua
mãe viveram juntas até que a morte as separou.
Lea Goldberg começou a publicar
versos em hebraico quando ainda era estudante. Frequentou a Universidade de
Kovno, a Universidade de Berlim (onde obteve o doutorado em filosofia e estudos
semitas) e a Universidade de Bonn.
Em 1936, mudaram-se para Israel e
estabeleceram-se em Tel Aviv, onde Lea deu continuidade a seus escritos poéticos
e contistas que até hoje fazem parte da cultura literária
israelense.
Lea Goldberg tinha um estilo modernista que,
superficialmente, pode parecer simples. Escreveu em um poema sobre seu próprio
estilo que "lúcido e transparente / são minhas imagens". Embora às vezes
escolhesse para escrever poemas que não tinham rimas, ela sempre respeitou as
questões de rítmo e, além disso, em seu "artigo" de obras ( por exemplo, o
conjunto de poesias de amor "Os Sonetos de Therese du Meun", um documento falso
sobre o amor, desejos de um nobre francês casado por um jovem
tutor).
Suas obras - além do afeto popular
generalizado - receberam numerosos prêmios, dentre os quais o maior galardão
nacional em sua categoria, o Prêmio de Literatura, outorgado em 1970.
Postumamente alcançou o ápice em apenas 58 anos de vida, com uma obra rica e
prolífica que inclui 12 livros de poesia, outros de teatro, novelas,
biografias, contos, traduções de Shakespeare, Tolstoi, Ibsen e Molière, que
deixaram uma marca profunda e indelével na cultura hebraica
contemporânea.
Lea Goldberg nunca se casou, seu
coração havia sido quebrado por um amor não correspondido, que expressou em
muitos de seus poemas.
Faleceu em 1970 de câncer de
pulmão, era uma fumante inveterada.
SOU
Sou única no
firmamento
e múltipla dentro do
abismo.
Do fundo rio me
contempla
a imagem
refletida.
Sou a verdade no
firmamento,
sou o imaginário
abismo.
Do fundo do rio me
contempla
a minha imagem, no seu enganoso
destino.
Lá no alto estou rodeada de
silêncio;
no abismo sussurro e
canto.
No firmamento sou um
deus,
no rio sou uma
oração.
(tradução: Cecília
Meireles)
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A ÁRVORE CANTA PARA O
RIO
Tu que levaste meu outono
aureolado
recolhendo meu sangue nas folhas
mortas,
tu que verás minha primavera, pois
ela volta,
quando chegar a estação do
ano.
Rio, irmão meu, tu que te perdes
para sempre
novo todos os dias, e outro e o
mesmo,
a correnteza, meu irmão entre as
margens
corre como eu entre a primavera e
outono.
Pois eu sou a borbulha e sou o
fruto,
o meu passado sou e meu
futuro,
sou o tronco a si mesmo
abandonado
e tu - tu és meu tempo, meu
poema.
(Tradução: Cecilia
Meireles)
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