Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









sexta-feira, 4 de outubro de 2013

NATÉRCIA FREIRE



NATÉRCIA FREIRE
(1919 - 2004)
 
 
Natércia Freire, foi contista, jornalista e mulher solitária. Escritora durante os anos em que o Estado Novo queria a mulher dentro de casa. Isolada pela Revolução de Abril, Natércia acabou caindo num silêncio imerecido. Deixa um legado poético que merece ser (re)descoberto.
Nasceu em Belvedere, no Ribatejo, e ainda criança mudou-se com a família para Lisboa. Começa dedidando-se à música, mas a poesia era-lhe a maior tentação. Terminou o liceu em 1932 e quatro anos mais tarde conheceu José Isidro dos Santos, com quem se casou.
O ano de 1938 marcou sua estréia na poesia, com a publicação de " Castelos de Sonho", seguindo-se "Meu Caminho de Luz", muito bem recebido pelo público e pela crítica.
Em 1940 inicia sua colaboração na Emissora Nacional, com palestras mensais. No início da década, talvez a mais pesada do consulado de Salazar, lança "Estátua" e "Horizonte Fechado", também muito aclamados. Natércia ingressava assim no meio poético, sendo íntima de alguns dos nomes mais destacados da poesia de então, como Carlos Queiroz, Cecília Meireles e Egipto Gonçalves.
 



Nos anos seguintes, a sua obra começa a ser reconhecida e a ganhar prêmios. Natércia Freire vence por duas vezes o Prêmio Antero de Quental, com "Rio Infindável" e "Anel de Sete Pedras", publicados em 1947 e 1952, respectivamente. Segue-se a entrada para o Diário de Notícias, a convite do Diretor Augusto Castro, pró-regime. Dirigiu a seção Artes e Letras do periódico, da qual saiu em 1974.



Deposto o Estado Novo, Natércia é afastada da Emissora Nacional e acaba por deixar, por sua iniciativa, o Diário Nacional. A escritora e jornalista inicia assim um processo de isolamento social, profissional e pessoal que se manteve até ao fim de sua vida.
Mas não deixou de publicar e colaborar com algumas publicações, como "O Tempo ou O Século". Em 1974 fratura a bacia num acidente e passa um ano acamada, depois de um período de quase-coma.
No início da década de 90 foi publicado o primeiro volume de sua "Obra Poética", prefaciado por seu amigo,  David Mourão-Ferreira.
Até ao final da sua vida publicou algumas antologias poéticas e foi alvo de várias homenagens.  Morre aos 85 anos, do mesmo modo discreto por que pautou os últimos anos da sua existência, deixando uma obra sobre a qual o seu desaparecimento venha talvez fazer incidir alguma atenção.

VISITA
 
Visito os amigos mortos,
Pensando que indo, estão vivos.
Entre a penumbra dos quadros
Andam eles sem sorrisos.
Pronuncio a frase antiga
E dou comigo sozinha.
Oiço então o dia exacto
Da estridente campainha.
Volto a casa, fecho o som
Por dentro da persiana.
E então os retratos andam,
A volta da minha cama.
 
** ** **
 
O BAILE
 
Névoa em surdina
A sombra que acompanha
As finas pernas a dançar na tarde.
Jogo de jovens corpos,
Música de montanha,
Num tempo teu e meu
De eternidade.
E eu, as duas estranhas.
 
Olha quem toca o ponto
Que há no fim!
Ao fim de mim,
No ponto para que vim.
Vulto de agulha
Em fumo de água e lenha.
 
Eu, as duas estranhas.
 
É sempre pelos outros que falamos.
Eu, as duas estranhas, por mim falam.
Em estranhas como os ramos
oscilamos. E vamos
Convergentes, dispersas, disparadas
Do caos ao sol
Em gradações de escadas.
 
Ouve-se às vezes uma voz: - Presente!
E já no corpo as almas vão tocadas.
 
Foi em concretos dias de sol posto,
Em fábricas de fios de uma aranha,
Que se teceram
Em finíssimas teias de desgosto,
(Eu) as duas estranhas.


Fontes de Pesquisa:
 

Trabalho de Pesquisa: Eliana Ellinger (Shir)
 

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