ALEXANDRE O'NEILL
(1924 - 1986)
Alexandre
Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões, poeta português, descendente de
irlandeses nasceu em Lisboa. Autodidata, fez os estudos liceais, frequentou a
Escola Náutica (Curso de Pilotagem), trabalhou na Previdência, no ramo dos
seguros, nas bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian, e foi técnico de
publicidade. Durante algum tempo, publicou uma crônica semanal no Diário de
Lisboa.
Datam do ano de 1947 duas cartas de O'Neill que demonstram o seu interesse pelo surrealismo, dizendo numa delas (de Outubro) possuir já os Manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. Nesse mesmo ano, O'Neill, Cesariny e Mário Domingues começam a fazer experiências a nível da linguagem, na linha do surrealismo, sobretudo com os seus Cadáveres Esquisitos e Diálogos Automáticos, que conduziam ao desmembramento do sentido lógico dos textos e à pluralidade de sentidos. Por volta de 1948, fundou com o poeta Cesariny, com José-Augusto França, António Pedro e Vespeira, o Grupo Surrealista de Lisboa.
Em 1949,
tiveram lugar as principais manifestações do movimento surrealista em Portugal,
como a Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa. Nessa ocasião, Alexandre
O'Neill publicou A Ampola Miraculosa, constituída por 15 imagens sem qualquer
ligação e respectivas legendas, sem que entre imagem e legenda se estabelecesse
um nexo lógico, o que torna altamente irônico o subtítulo da obra, «romance».
Esta obra poderá ser considerada paradigmática do surrealismo português. Foram
lançados, ainda nesse ano, os primeiros números dos Cadernos
Surrealistas.
Depois de uma fase de ataques pessoais entre os dois grupos (1950-52),
que atingiram sobretudo José-Augusto França, e após a morte de António Maria
Lisboa, extinguiram-se os grupos surrealistas, continuando todavia o surrealismo
a manifestar-se na produção individual de alguns autores, incluindo o próprio
Alexandre O'Neill, que se demarcara, já em 1951, no Pequeno Aviso do Autor ao
Leitor, inserido em Tempo de Fantasmas. Nessa mesma obra, sobretudo na primeira
parte, Exercícios de Estilo (1947-49), a influência do surrealismo manifesta-se
em poemas como Diálogos Falhados, Inventário ou A Central das Frases e na
insistência em motivos comuns a muitos poetas surrealistas, como a bicicleta e a
máquina de costura. Na segunda parte da obra, Poemas (1950-51), essa influência,
embora ainda presente, é atenuada, como em No Reino da Dinamarca (1958) e
Abandono Vigiado (1960).
AOS VINDOUROS, SE
HOUVER
Vós, que trabalhais só
duas horas,
a ver a trabalhar a
cibernética,
que não deixais o
átomo a desoras
na gandaia, pois
tendes ética;
Que do amor sabeis o
ponto e a vírgula
e vos engalfinhais
livres do medo,
sem peçarios,
calendários, pílula,
jaculatórias fora,
tarde ou cedo;
Computai, computai a
nossa falha
sem perfurar demais
vossa memória,
que nós fomos pr' aqui
uma gentalha
a fazer passamanes com
a história;
Que nós fomos (fatal
necessidade)
quadrúmanos da vossa
humanidade.
** ** *
O AMOR
O amor é amor - e depois?
vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois?
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?
Eliana (Shir) Ellinger
Fontes de pesquisa:
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