RODRIGUES DE ABREU
(1897 - 1927)
Benedito Luis Rodrigues de Abreu,
nasceu em Capivari em 27 de setembro de 1897, na fazenda Picadão. Aos sete anos
passou a morar em Piracicaba, onde começou os estudos em "escola de
sítio".
Aos 12 anos foi para São Paulo com
a família, primeiro moraram no Brás, depois em Vila Albuquerque, onde trabalhou
numa farmácia com entregas a domicílio, até ser internado no Liceu Coração de
Jesus, para aprender uma profissão. Em maio de 1918 voltou com a família para
Capivari, onde trabalhou na Caixa de Crédito Agrícola.
Seu contato com a poesia aconteceu
no colégio, onde aprendeu métrica lendo Simões Dias e sua primeira composição,
de acordo com os amigos, foi "O Famélico", obra inspirada no "Pedro Ivo" de
Castro Alves.
As obras mais antigas do poeta
capivariano foram descobertas pelo professor Carlos Lopes de Mattos, intituladas
O Caminho do Exílio e A Virgem Maria, ambas publicadas na
revista Ave Maria, em novembro/dezembro de 1916. Em Capivari seus poemas eram publicados nos jornais Gazeta de
Capivari e O Município.
Além de poeta, Rodrigues de Abreu
era orador talentoso, grande ator e desportista. Foi centro-avante do
Capivariano F.C., para o qual compôs o hino oficial.
Ele fundou o "Grêmio Literário e
Recreativo de Capivari, grupo que encenou Capivari em Camisola, escrita
por Epaminondas de Almeida, na parte em prosa e por Rodrigues de Abreu nas
passagens em versos.
O seu livro de estréia deveria ter
sido Folhas, que foi submetido à apreciação de Amadeu Amaral que
referiu-se assim à obra: "Depois de Olavo Bilac e Martins Fontes, é o melhor
livro de estréia que tenho visto". Contudo, devido à dificuldades de
publica-lo e levado pelo interesse de seu primeiro editor (Amadeu Castanho) de
publicar o que o jovem escritor desejasse, antes de Folhas sugiu
Noturnos com evidente sucesso.
Trabalhou com Amadeu Amaral em
A Cigarra , em São Paulo, em 1921 e em 1922 foi para Bauru. Dois anos
depois teve que ser internado em Campos do Jordão devido à tuberculose que já se
pronunciara em 1919.
nessa época que lança A Sala dos Passos Perdidos e passa a assinar
'Rodrigues Abreu'.
Em 1925 mudou-se para São José dos
Campos. Surge então sua obra, Casa Destelhada.
Em 1927 foi para Atibaia e retornou
à Bauru, onde veio a falecer aos 30 anos de idade, devido à doença.
Desde o início, Abreu já confessara
o desejo de "ser tuberculoso". Segundo ele, esse era o mal que geralmente
acometia os grandes poetas do passado.
"Com ele, (escreveu Odílio
Costa Filho) expira o simbolismo no Brasil e expira com beleza. Dor e
beleza" .
AO LUAR
Os santos óleos, do alto, o luar
derrama...
Eu, pecador, ao claro luar
ungido,
Sonho: e sonhando rezo
comovido
E arrebatado na divina
chama.
Deus piedoso, consolo do
oprimido,
Se compadece, à voz que ardente
clama,
Porque meu coração, impura
lama,
É um brado intenso para os céus
erguido!
E o divino perdão desce da
altura:
Grandes lírios alvíssimos
florescem
Sob a lua. floresce a
formosura...
E nessa florescência,
imaculados
Raios longos do luar piedoso
descem,
Choram comigo sobre os meus
pecados.
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CASA DESTELHADA
A minha vida é uma casa
destelhada
por um vento fortíssimo de
chuva
(As goteiras de todas as
misérias
estão caindo em lentidão
perversa
na terra triste do meu
coração).
A minha alma, a inquilina, está
pensando
que é preciso mudar-se, que é
preciso
ir para uma casa bem
coberta...
(As goteiras estão
caindo,
lentamente,
perversamente,
na terra molhada do meu
coração).
Mas a minha alma está
pensando
em adiar, quanto mais, a mudança
precisa.
Ela quer muito à velha
casa
em que foi feliz...
E encolhe-se, toda transida de
frio,
fugindo às goteiras que caem
lentamente
na terra esverdeada do meu
coração!
Oh! A felicidade
estranha
de pensar que a casa aguenta
mais
um ano
nas paredes
oscilantes!
Oh! a felicidade
voluptuosa
de adiar a mudança,
demorá-la,
ouvindo a música das goteiras
tristes,
que caem lentamente,
perversamente,
na terra gelada do meu
coração!
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Eliana (Shir) Ellinger
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